Pietro
Maria Bardi
Italiano da Liguria, o criador
do Museu de Arte de São Paulo, Masp, morreu de falência múltipla
dos órgãos, aos 99 anos
O galerista italiano Pietro Maria Bardi, 99 anos, foi um homem
que colecionou obras de arte, elogios e críticas pesadas.
Natural da Liguria, onde nasceu em 1900, ele associou-se em
1946 ao todo-poderoso da imprensa brasileira dos anos 40 e
50, Assis Chateaubriand, para colocar o Brasil no cenário
dos grandes acervos de arte. A parceria, que permaneceu inabalada
apesar das crises que levaram ao fim o império de Chateaubriand,
gerou um dos maiores museus da América Latina, o Masp,
Museu de Arte de São Paulo. Ele morreu na sexta-feira
1.º, enquanto dormia, em sua casa no bairro paulistano
do Morumbi, vítima de uma parada cárdio-respiratória
que levou à falência múltipla dos órgãos.
"A morte do professor é uma perda irreparável
para São Paulo e para as artes", lamentou o ex-ministro
da Saúde Adib Jatene, vice-presidente do conselho deliberativo
do Masp.
Apesar
de não ter completado sequer o curso primário,
Bardi viajou por toda a Europa devastada pela 2.ª Guerra
comprando as obras que as famílias tinham de vender
para reconstruir suas vidas. "Eu dividiria a arte de
São Paulo entre antes e depois de Pietro Maria Bardi",
afirma o colecionador José Mindlin.
Outra
parceria fiel e de sucesso foi com a esposa, a arquiteta italiana
Lina Bo, 14 anos mais nova que ele, falecida em 1992. Eles
se conheceram em 1943 e casaram logo em seguida. Vieram para
o Brasil três anos depois, quando ele era jornalista
e crítico de arte reconhecido em seu país. "Eram
dois temperamentos muito diferentes, mas um não fazia
nada sem o consentimento do outro", explica Graziella
Bo Valentinni, irmã de Lina e presidente do Instituto
Lina Bo e P. M. Bardi, que administra o legado dos dois.
Nem tão
bem aceita foi a associação com o homem que
levou o fascismo ao poder na Itália, Benito Mussolini,
ditador pelo qual Bardi nutriu fervoroso entusiasmo. Tal ligação
levou-o a ser acusado por muitos de impor mão-de-ferro
na direção do Masp, com um comando autocrático
e centralizador. "Os invejosos emagrecem e morrem de
prisão de ventre", dizia ele, em resposta aos
opositores.
Figura
polêmica e de temperamento difícil, Bardi foi
afastado da direção do museu em 1992, quando
foi convidado a assumir o cargo simbólico de presidente
de honra. Não aceitou. Preferiu retirar-se para a Casa
de Vidro, a mansão projetada por sua mulher no Morumbi,
onde ele morava desde 1951 cercado por 8 mil metros quadrados
de mata atlântica e relíquias de arte como telas
de Goya e mosaicos italianos de mármore do século
15. Agora a casa deverá ser aberta à visitação
pública, em data ainda indefinida. As homenagens preparadas
para o centenário do galerista incluem o livro Arte:
Isto É..., que trará 100 artigos de Bardi publicados
entre 1977 e 1992 nas revistas IstoÉ, IstoÉ/Senhor,
Senhor e Senhor/Vogue e prefaciado pelo jornalista Mino Carta.
"Será um retrato do que ele representou para mim:
coerência, integridade e maestria", diz o escritor
Cláudio Valentinni, 49 anos, sobrinho de Bardi e organizador
do livro.
Seu corpo
foi cremado, conforme sua vontade, no Crematório da
Vila Alpina, em São Paulo, no domingo 3, após
ter sido velado no salão nobre do Masp. Deixa uma filha,
Fiorella, que não pôde vir da Itália,
onde vive, para o funeral.
Akio Morita, engenheiro que ajudou a fundar a empresa japonesa
de eletrônica Sony e criou o walkman, morreu no domingo
3 de pneumonia, aos 78 anos, em Tóquio. Um dos revolucionários
que transformaram a economia japonesa, arrasada após
a 2.ª Guerra Mundial, ele havia passado seus últimos
anos no Havaí, recuperando-se de um derrame cerebral
que o afastou do comando da empresa, em novembro de 1993.
Morita fundou a Sony - do latim sonus (som) com o inglês
sunny (ensolarado) - em 1946, sobre os escombros de uma loja
bombardeada pelos americanos. Seu estilo incansável
de trabalho foi forjado no fracasso em comandar a fábrica
de saquê da família, baseada em Nagoya.
Ricardo
Bueno, economista e jornalista que escreveu livros como A
Farsa do Petróleo e Por Que Faltam Alimentos no Brasil,
morreu no domingo 3 após lutar por sete meses contra
um câncer de pele, aos 50 anos. Bueno foi editor do
Diário do Comércio e Indústria e integrou
as equipes dos jornais O Pasquim e Movimento. Nos últimos
anos ele lecionava economia na Universidade Cândido
Mendes, no Rio de Janeiro. O economista deixa quatro filhos
e a esposa, a jornalista Sônia Toledo. Ele foi sepultado
no cemitério São João Batista, no Rio,
na segunda-feira 4.
Amália
Rodrigues, a maior cantora de fados de todos os tempos, morreu
em sua casa em Lisboa na quarta-feira 6, aos 79 anos, de causa
ainda desconhecida. Símbolo da música folclórica
portuguesa em todo o mundo, Amália cantou em público
pela última vez na exposição universal
de Lisboa, em 1998, depois de ter sofrido uma cirurgia cardíaca
que a afastara dos palcos. Nascida em 1920, ela começou
a cantar ainda na adolescência nas docas do rio Tejo,
enquanto vendia frutas com a mãe e a irmã. "Eu
não canto o fado, ele canta em mim", afirmou certa
vez. O governo português declarou luto oficial de três
dias.
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