Romance histórico
Burr
Gore Vidal reconta a história de
Aaron Burr (1756-1836) - vice-presidente de Thomas Jefferson
e uma das mais controvertidas personalidades da América
do Norte
Antonio
Querino Neto
Seria
uma ingenuidade esperar que o terrível Gore Vidal se
intrometesse na vida de Aaron Burr (1756-1836) - vice-presidente
de Thomas Jefferson e uma das mais controvertidas personalidades
da História americana - com o mero intuito de remoer
fatos do passado. Mesmo porque, para o autor de Lincoln e
Juliano, o fascínio do romance histórico está
em poder "rearranjar os eventos e atribuir motivos",
atitude que estaria fora da alçada tanto do historiador
quanto do biógrafo. Nem por isso Burr (536 págs.,
R$ 42,50) é uma interpretação livre do
que aconteceu no tempo dos fundadores da democracia americana,
muito pelo contrário.
A trama
arquitetada por Vidal é rigorosamente baseada em fatos
reais. Burr é um romance detalhado e nada inocente,
reproduzindo frases que realmente foram ditas pelos personagens,
quase todos verídicos, com exceção de
dois deles, entre os quais o narrador, um jornalista chamado
Charles Schluyer. O jornalista recebe a missão de escrever
sobre o coronel Burr, que havia sido acusado de tentar invadir
o México e duelar e matar seu desafeto Alexander Hamilton,
entre outros delitos.
Obviamente,
a narrativa constitui um pretexto para Vidal recontar um dos
períodos mais marcantes dos EUA. Imaginando a vida
de um dos principais homens da era pós-revolução
e pintando-a como a de um reles aproveitador, o escritor vai
minando a imagem grandiosa que a História reserva aos
poderosos. Como nada que Vidal cria vem isento de veneno (vide
o roteiro para o clássico Ben Hur), a acidez crítica
escorre em todas as páginas. O próprio presidente
George Washington aparece como um homem mesquinho e obcecado
pelo pomposo teatro do poder.
Visão
irreverente da história
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