Capa
Luma de Oliveira e o prazer de provocar
Casada
com um milionário e mãe de dois meninos, a ex-modelo e empresária,
que desfilou com uma coleira com o nome do marido, anuncia
que vai posar nua
Rosângela
Honor
do Rio de Janeiro
Numa noite
do fim de junho, Luma de Oliveira, 34 anos, vestiu-se apenas
com uma lingerie de seda azul e uma sandália de salto
alto. No quarto, pintado em tom pastel e com vista para a
Lagoa Rodrigo de Freitas, o marido Eike Batista, 42 anos,
a aguardava. Decidida a comunicar a mais recente decisão,
sentou-se à beira da cama e cruzou as pernas. Ele,
já conhecedor das estratégias da mulher com
quem vive há oito anos, observava cada gesto dela com
desconfiança. De repente, a pergunta. "Eike, estou
bem?" Com entusiasmo, ele respondeu: "Bem? Você
está ótima". Diante da observação
precisa, seguiu-se uma conversa que ainda hoje o deixa inquieto.
Ali, na intimidade, ela começou a contar-lhe que estava,
sim, decidida a posar nua, pela quinta vez na sua carreira.
Quando
se casaram, em 1991, após um rápido e intenso
romance, ela era conhecida em todo o País por desfiles
apoteóticos no Sambódromo do Rio e por ensaios
fotográficos nus - em 1987 e em 1990 - que revelavam
os dotes que a natureza lhe deu. O casamento parecia o fim
da temporada sem roupa da modelo. Por isso, a parte mais difícil
da negociação com a revista Playboy, iniciada
em janeiro, seria dobrar o marido - que também bolou
uma estratégia para tentar fazê-la desistir,
assim que soube do que estava por vir. Primeiro, tentou cobrir
o cachê oferecido, formado por uma parte fixa, igual
à das maiores estrelas da televisão, mais participação
nas vendas superiores a 200 mil exemplares. "Como bom
empresário, ele tentou negociar o tempo inteiro",
diz Luma. Não deu certo.
A etapa
seguinte foi abastecê-la com chocolates - até
que ela percebeu a manobra para fazê-la engordar. "Se
você quer me agradar, não traz chocolates",
pediu. "Estou fazendo ginástica todos os dias,
lembra?" Mesmo assim, ele deu a última cartada.
Mostrou a ela um artigo publicado numa revista americana sobre
o sucesso de um novo método de fertilização
no qual há mais chances de gerar uma menina. O casal,
que tem dois filhos - Thor, 8 anos, e Olin, 3, que só
andam em carro blindado -, programara mais um para este ano.
"Resolvemos arquivar o projeto", diz Luma.
Embora o martelo
já tenha sido batido, até hoje o assunto é
tabu na mansão do casal, no alto do Jardim Botânico,
bairro de classe alta na zona sul do Rio, onde trabalham nove
empregados, entre seguranças, jardineiros, cozinheiras,
faxineiras e uma babá. Eike conta que começou
a mudar de idéia depois que Luma lhe mostrou o ensaio
de Cindy Crawford, na Playboy americana, publicado em 1998.
"As fotos podem ser sensuais sem parecer vulgares",
diz.
Marido
de ouro
Dono de
uma empresa de mineração - a TVX, com 300 toneladas
de ouro em reservas -, de uma fábrica de jipes fornecedora
do Exército francês e da Clarity, de cosmésticos
- na qual trabalha o irmão e empresário da modelo,
Men de Oliveira, 48 anos -, Eike não vai ao lançamento
da edição do ensaio da mulher. "Provavelmente,
estarei em viagem de negócios", despista. Aliás,
como faz em todos os carnavais, quando Luma desfila. Jura
que não tem ciúmes. "Ela demonstra que
é minha a todo instante", diz. Foi assim no Carnaval
do ano passado, quando a modelo usou uma coleira com o nome
do marido. "Quando soube, achei uma prova de amor e uma
demonstração de coragem", elogia.
O episódio
trouxe dor de cabeça para Luma. Ela foi massacrada
pela feminista carioca Rosemarie Muraro em um programa de
debates na tevê. A feminista chamou-a de Amélia,
entre outros adjetivos. "Acho isso tudo profundamente
idiota", volta a atacar hoje Rosemarie, ao ser informada
de que Luma posará nua. A ex-modelo acredita que o
ensaio será uma resposta. "Vou mostrar que sou
Amélia, sim, mas uma Amélia moderna e independente",
defende-se. Ao aceitar o convite, a modelo também quer
dar a volta por cima das críticas que recebeu, além
da coleira. "Disseram que eu estava escondendo o corpo
fora de forma", reclama Luma, que engordou 18 quilos
na segunda gravidez. Nessa época, ela prometeu a si
mesma que retornaria este ano mais linda do que nunca. Contratou
um personal trainer e passou a exercitar-se duas horas e meia
por dia na academia montada em casa. E submeteu-se a uma plástica
para implantar silicone nos seios. Com 1,74m, está
pesando 57 quilos.
Ensaio
nas férias
Aos que
não entendem o que leva uma mulher famosa, mãe
de dois filhos e casada com um bilionário a fotografar
nua, Luma tem uma resposta. "É um trabalho digno
e bonito. Nunca tive problemas com a nudez", diz ela,
que ganhou do marido o apelido de "pouca roupa".
Em casa, Luma toma banho na frente dos filhos e, em Búzios,
costuma fazer topless quando a praia está deserta.
Mas deixa transparecer uma preocupação quanto
aos possíveis comentários dos amiguinhos de
turma do filho mais velho. "Providencialmente o ensaio
será publicado em janeiro, nas férias escolares",
diz Luma. Mas também não esconde seu fascínio
pela oferta financeira. "Se o cachê não
fosse tão bom, não aceitaria."
Filha
caçula de uma família de seis irmãos,
natural de Nova Friburgo, na região serrana do Rio,
Luma estreou na carreira de modelo aos 16 anos, quando já
se mudara para Niterói. O irmão Men substituiu
seu pai como tutor. "Eu ia buscá-la nas festinhas",
lembra ele. Foi uma das irmãs, a já consagrada
Ísis de Oliveira, hoje madrinha de Thor, que lhe abriu
as portas. Durante um ano, ela telefonou para as agências
fazendo propaganda da caçula. "Ser irmã
de Ísis me poupou de constrangimentos", reconhece.
Em 1987, estreou na novela O Outro e, em seguida, atuou em
Meu Bem, meu Mal, em 1991. "Se tivesse seguido a carreira,
poderia ter se tornado a nossa Julia Roberts", elogia
Aguinaldo Silva, autor de O Outro. Luma também fez
dois filmes dos Trapalhões e protagonizou Boca de Ouro,
de Walter Avancini, em 1989.
Não
foi por falta de convites que Luma deixou a carreira de atriz.
Quando estava amamentando Olin, foi chamada pelo autor Carlos
Lombardi para atuar em Vira Lata, em 1996. "Ela sempre
chamou a atenção pela beleza e empatia",
afirma Lombardi. Mas sua decisão já estava tomada
desde que se casou, em 1991. A história de seu casamento
com o empresário não deixou nada a dever a um
conto de fadas.
Noivo
em fuga
Eike abandonou
sua noiva, a socialite Patrícia Leal, com quem já
se casara no religioso, a uma semana da união civil.
O anúncio caiu como uma bomba na alta sociedade carioca.
Convites distribuídos e presentes recebidos, o filho
do ex-ministro Eliezer Batista abandonou tudo para ficar com
Luma. Ela recebeu a notícia minutos antes de entrar
na passarela para mais um de seus desfiles. "Eu só
sabia que ele tinha uma namorada, mas nem desconfiava de quem
se tratava", lembra Luma. Dois anos depois, Patrícia
casou-se com Antenor Mayrink Veiga, ex-namorado de Luma, após
o Vaticano anular seu casamento com Eike.
Eike e
Luma casaram-se no civil, três meses depois, em uma
cerimônia para 200 convidados na cobertura onde o noivo
morava, no Jardim Botânico. "De tão apaixonados,
foram embora antes da festa acabar", relembra Helena
Brito Cunha, que organizou a recepção. Prestes
a ter seu nome incluído no livro Sociedade Brasileira,
que reúne a nata dos socialites, Eike foi descartado
ao deixar Patrícia no altar. "Se tivesse casado
com ela, teria sido incluído", diz a autora Helena
Gondim. "Não faria sentido depois que se casou
com Luma." Na época, a modelo terminara um romance
com o atacante Renato Gaúcho. "Acho ela demais",
diz o jogador. Ele acabou causando um mal-estar a Luma por
ter contado detalhes do romance em uma entrevista à
revista Interview, em 1992, quando a modelo já estava
casada. "Só disse a verdade", desculpa-se
ele.
Luma sofreu
hostilidades. Por diversas vezes, conta ter sido vítima
de comentários maldosos. "No início, evitávamos
sair de casa", diz. Luma trocou a carreira artística
pela empresa de cosméticos que fundou em sociedade
com o marido. Hoje empresária, emprega 40 pessoas e
tem 50 distribuidores por todo o País. Só retorna
à profissão de modelo quando divulga a grife.
No ano passado, trocou de agência de publicidade ao
discordar das diretrizes de uma campanha: não aceitou
mostrar apenas o rosto. Espalhou outdoors no Rio e em São
Paulo em que sua nudez era oculta apenas por um lençol
de seda. Até hoje, ela conseguiu tirar de letra os
papéis de mulher, mãe e símbolo sexual.
Certa vez, ao posar de lingerie para uma revista feminina,
pediram-lhe que tirasse a aliança. Recusou. Tudo indica
que repetirá a negativa sempre que ouvir a proposta.
Colaborou
Adriana Barsotti - Produção: Eduardo Roly; Cabelo
e maquiagem: Ronald Pimentel. Agradecimentos: Tereza Scartier,
Lenny, Alexandre Mattos e Henrique Filho
|