Livros
Achados
da Geração Perdida
Obra
mostra os delírios gastronômicos de artistas fora de seu país
Paula
Alzugaray
Outono
de 1908, estúdio do jovem (e duro) pintor Pablo Picasso,
no decadente bairro de Montmartre, Paris. Trinta amigos reúnem-se
para um banquete em homenagem ao pintor sexagenário
Henri Rousseau. Picasso destina 50 garrafas de vinho para
a festa e a comida, uma enorme paella valenciana, é
preparada por Fernande Olivier, namorada do pintor.
Assim
começa a orgia gastronômica de Achados da Geração
Perdida (264 págs., R$ 28), da jornalista americana
Suzanne Rodriguez-Hunter, uma deliciosa compilação
de receitas e histórias ao redor das mesas de alguns
dos maiores artistas do século. O banquete de Picasso
acabou ao amanhecer, mas logo veio uma ceia fria com ostras
e maionese de vinho tinto compartilhada pelo escritor James
Joyce e pela editora Sylvia Beach.
O livro
seria infindável caso a autora não tivesse escolhido,
como tema central, as comilanças dos americanos "expatriados",
que decidiram viver em Paris durante os anos 20 - a década
da efervescência cultural, que produziu os movimentos
cubista, dadaísta e surrealista. O escritor Ernest
Hemingway foi um dos que aproveitaram a Primeira Guerra para
trocar os EUA pela Itália onde foi dirigir uma ambulância.
Em janeiro de 1922, passava fome em Paris, tentando viver
da própria escrita. É especialmente saborosa
sua refeição de salsichas com mostarda e salada
de batatas. Gosto ainda mais especial tem a lagosta grelhada
que a dançarina Josephine Baker come sozinha, nos camarins
do teatro Folies-Bergères, depois de ter passado a
infância catando cabeças de galinha no lixo de
St. Louis, nos EUA. Mas, hours-concours, como dizem os franceses,
eram os restaurantes baratos do mercado de peixes Les Halles
- que serviam a tradicional sopa de cebolas -, onde dez entre
dez boêmios viam o dia nascer.
Merecia uma edição ilustrada
Achados e Perdidos
Suzanne Rodriguez-Hunter (Rocco)
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