Suspense
De
Olhos Bem Fechados
Último filme de Kubrick estréia
com o mais belo close da história do cinema
Geraldo
Mayrink
O
que seria da vida se ela não fosse um sonho, ou um
pesadelo de imagens inesperadas, luminosas e sem sentido -
como se não fosse um filme, enfim? Esta não
teria sido a vida de Stanley Kubrick. Quando saiu dela, em
março, aos 70 anos, teve a suprema generosidade de
registrar sua passagem pela Terra deixando pronto De Olhos
Bem Fechados. O filme - apenas o 13.º de uma carreira
sovina, de quase meio século - tornou-se um dos maiores
sucessos de todos os tempos antes de ser lançado. Visto
na tela, vale o quanto pesa e muito mais. É um deslumbramento.Pois
não é todo dia que se vê - se é
que se vê - uma sinfonia visual deste porte. Pode ter
sido a premonição de um grande adeus iluminando
o artista. Depois de cinco anos de preparação
e filmagem, Kubrick saiu de cena devolvendo ao cinema e seu
público o que dele recebeu e o que tem de mais nobre
- imagens, sons, ritmo, hipnose, numa palavra: emoção.
Coisas tão simples que se perderam, menos nesta história
em que um jovem casal composto por um bonitão (doutor
Harford, Tom Cruise) e uma bonitinha (Alice, Nicole Kidman,
mulher dele) sai da gandaia yuppie de Nova York para mergulhar
durante 24 horas numa outra realidade, dentro deles, inventando
- ou desejando - coisas passadas e presentes. Todas sexuais.
Algumas mórbidas. Muitas delas amorosas. A maioria
dilaceradamente humana.
Como testamento
involuntário, De Olhos Bem Fechados merece ser visto
pelo que é, e não pelo que pode ser contado
em palavras. Uma anedota acompanhou Kubrick ao túmulo.
Dizia que Deus fez o mundo em seis dias e que no sétimo
apareceu Kubrick, mandando tudo de volta para modificações.
Se mandou refazer a cena em que Nicole Kidman acabou de passar
a noite chorando, de nariz vermelho e olhos inchados, muda
e com o sol na cara, valeu a pena. É o mais belo close
mostrado no cinema em muitos e muitos anos.
Um grande adeus
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