É hora de o Brasil apostar no mercado mundial de computação e telecomunicações, não só na vitória da seleção na Copa do Mundo. Com esse conselho em tom quase paternal o presidente mundial da Intel, Craig Barrett, engrossou hoje um movimento para que o país reduza impostos sobre produtos de informática."O Brasil deveria levar a tecnologia da informação, as comunicações e a Internet tão a sério quanto leva a seleção de futebol", afirmou o presidente do maior fabricante de chips do mundo a uma platéia de 800 executivos e jornalistas.
Barrett alertou que o Brasil deve estar pronto para ser competitivo quando a economia mundial voltar a um período de crescimento econômico sustentado, que vai se basear no binômio computação-telecomunicações. Segundo ele, essa é uma decisão que o governo deve tomar, eliminando barreiras como impostos e tarifas que incidem sobre produtos de tecnologia.
"O Brasil está de alguma forma atrasado em relação a outros países", disse o executivo, apresentando dados de um ranking dos mercados mais preparados para o comércio eletrônico. Nesse levantamento, o Brasil aparece em 36º lugar, atrás de países como Chile (29º) e México (34º).
Dados atribuídos ao instituto de pesquisa IDC mostram que o Brasil movimentou US$ 5 bilhões em comércio pela Internet no ano passado e que deve chegar a US$ 20 bilhões em 2006. Para Barrett, essa projeção está subestimada. O executivo da Intel acredita que o montante em 2006 possa ser até US$ 10 bilhões maior.
"Não é a política mais inteligente colocar impostos e tarifas sobre produtos para proteger a indústria local", afirmou Barrett, argumentando que essa prática inibe o desenvolvimento do setor. Ele conclamou os empresários brasileiros a se aliarem à Intel nesse movimento.
"O Brasil tem mais oportunidades para avançar além do mercado doméstico. Pedimos ao governo que siga nessa direção", declarou o presidente da Intel. Para os jornalistas, Barrett afirmou depois que não cabe a ele, cidadão norte-americano, fazer recomendações ao presidente do Brasil sobre como atuar nesse setor.
Barrett, doutor pela Universidade de Stanford, encontra-se com Fernando Henrique Cardoso amanhã. Além de anunciar a adesão ao Programa Nacional de Microeletrônica, que prevê investimentos das empresas de tecnologia em capacitação de engenheiros nas áreas de aplicativos e design de chips, ele deve insistir na revisão dos impostos sobre o setor.
A Intel pretende instalar no Brasil três dos 100 centros de formação de crianças e jovens do programa "ClubHouse". O primeiro será em São Paulo, ligado ao Instituto Dom Bosco, que atende 1,5 mil pessoas por dia.
O gerente-geral da Intel no Brasil, Paulo Cunha, esclareceu que 90 países aderiram até agora ao Information Technology Agreement (ITA), que zera impostos e tarifas em produtos de tecnologia da informação. O Brasil, que não aderiu ao acordo, poderia aceitar uma proposta alternativa que reduziria em 17% a taxação desses bens no prazo de três anos.
"A Intel está se assumindo mais brasileira. Queremos condições de igualdade para competir internacionalmente", disse Cunha, justificando a entrada desse tema na pauta da empresa no país. Ele afirmou também que a pirataria e o contrabando de produtos têm afetado o mercado da Intel no Brasil.
Por outro lado, o governo brasileiro não esconde que a sua pauta com a Intel é a atração de um fábrica para o país. As chances são poucas. "Visito 30 países e recebo 30 propostas por ano para construir uma fábrica de chips. Trato os pedidos com muita seriedade, mas a resposta mais frequente é 'Não"', comentou Barrett.
Em 1997, o Brasil foi derrotado pela Costa Rica numa disputa para atrair uma fábrica da Intel. Segundo fontes do setor, a persistência do governo brasileiro em não conceder isenção do imposto de renda foi a estocada final.