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Livro conta a história dos bastidores da TV Tupi

Sexta, 21 de dezembro de 2001, 16h13


O melhor livro já escrito sobre a TV Tupi - primeira emissora de televisão do Brasil, inaugurada em setembro de 1950 - não está ao alcance do público. Pelo menos nas livrarias. Tupi - Pioneira da Televisão no Brasil, do jornalista José de Almeida Castro, tem tiragem de 5 mil exemplares, capa dura, papel de alta qualidade e edição da Fundação Assis Chateaubriand. Mas será distribuído apenas para bibliotecas públicas, faculdades de comunicação e profissionais da área. Não é uma obra definitiva sobre o assunto. Primeiro porque o autor escreveu apenas sobre os dois primeiros anos da Tupi, quando foram instaladas as emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro.

Mesmo assim, tem méritos diante da pobre bibliografia que trata do mais importante e mais influente veículo de comunicação do Brasil. O livro de Castro também passou longe da tradição de bajulação a Chateaubriand que tem caracterizado os títulos lançados pela fundação que leva seu nome. Aos 79 anos, o bemhumorado jornalista diz que aceitou o convite para contar a história da Tupi porque se cansou de ouvir histórias exageradas ou fantasiosas sobre a emissora. Currículo para isso ele tem, pois foi uma das figuras mais importantes dos Diários Associados, entre as décadas de 1950 e 1970. Tanto que se tornou um dos condôminos do grupo, após a morte de seu fundador - e se afastou em 1974. Graças a ele, boa parte dos documentos que atestam os primeiros momentos da televisão no Brasil foram preservados.

Parte desse material, cerca de 180 imagens, ilustra o livro. Muitas fotos são inéditas ou só saíram na imprensa da época. Com o auxílio de 18 pesquisadores e historiadores, o autor reuniu documentos, artigos, reportagens e testemunhos para contar o lento processo de adoção da TV no Brasil. Essa é, aliás, a primeira constatação de sua pesquisa: a Tupi não nasceu da noite para o dia, mas depois de um esforço de quatro anos de idas e vindas e negociações nos Estados Unidos. 'Apesar de recente como história, com muitos dos seus personagens ainda vivos, a TV coleciona um folclore imenso, que muita gente considera mais importante que a informação verdadeira', diz o jornalista.

Foram consultadas todas as edições diárias, semanais ou mensais de janeiro de 1950 a janeiro de 1952 dos mais importantes jornais e revistas de São Paulo e Rio. A esse material foram acrescentadas gravações de entrevistas com 140 pessoas. A leitura da imprensa levou Castro a uma surpresa: o provincianismo da época. Nenhum dos diários concorrentes de Chateaubriand deu uma única linha sobre a inauguração da emissora. Por mais que a novidade tecnológica fosse um marco para a comunicação no país, foi ignorada por completo.

Metade do livro conta o lento processo de criação da Tupi. Fala principalmente dos primeiros tempos, anteriores e posteriores ao lançamento do canal, no dia 18 de setembro de 1950. A época é relembrada a partir de fatos curiosos e nomes daqueles que atuaram principalmente nos bastidores. O livro reproduz, por exemplo, o discurso de Chateaubriand na inauguração da emissora. Traz um artigo escrito pelo empresário de Nova York e publicado no dia 12 de outubro de 1949, com o título 'Televisão para mais paulistas'. Chateaubriand prometia para breve modernas emissoras para São Paulo e Rio, um privilégio para as duas maiores cidades brasileiras.

Antes de contar como a Tupi foi ao ar, o autor faz um retrospecto sobre como a TV foi inventada e de que forma surgiram as primeiras redes. Fala do pioneirismo inglês, quando a BBC manteve, a partir de 1936, duas horas de programação regular todos os dias. A eclosão da I Guerra, em 1939, levou à suspensão das transmissões. A história de como Chateaubriand viajou para comprar os equipamentos da RCA Victor nos Estados Unidos é contada em detalhes. Na oportunidade, o empresário brasileiro pôde ver, ao vivo, do alto do edifício da empresa, três monitores que exibiam imagens em cores com um panorama de Nova York. Isso mesmo, em cores, já naquela época. No mesmo encontro com a diretoria da RCA, ele foi apresentado ao russo Wladimir Zworykin, inventor da transmissão eletrônica de imagens. O brasileiro teria brincado: 'Não há comunista inteligente que não aproveite para vir gozar as delícias do capitalismo.'

Outro fato pouco conhecido foi a incursão da Tupi na produção cinematográfica, antes mesmo de a emissora ir ao ar. A idéia teria partido do próprio Chateaubriand, que nunca demonstrou paciência para ficar sentado por duas horas durante a exibição de um filme. Segundo Luiz Gallon, que participou do projeto, o primeiro longa da Companhia Cinematográfica Tupi se chamava 'Quase no Céu', escrito e dirigido por Oduvaldo Viana. Ele convencera o dono das Associadas a bancar a produção, depois do sucesso do documentário 'Chuva de Estrelas', sobre os radioatores da emissora, em 1946. Lançado em 20 salas de São Paulo, com o elenco da Tupi, o filme foi um sucesso. Walter Avancini e Erlon Chaves fizeram o papel de dois meninos de recado. Segundo Gallon, a produção teria estimulado até o empresário a agilizar a vinda da TV para o país.

O esforço para separar mitos, mentiras e verdades se estende a informações muitas vezes irrelevantes. Como a afirmação de que o frei José Mojica teria cantado na inauguração da emissora. Não foi verdade. O ato oficial de inauguração ocorreu no auditório da Rádio Tupi, no bairro do Sumaré, e não na sede dos Associados, na rua 7 de Abril, centro de São Paulo. Não é correto também dizer que Chateaubriand danificou uma câmera de TV porque teria quebrado uma garrafa de champanhe no equipamento. Nem que o bispo Rolim Loureiro tenha danificado o equipamento ao se exceder na dose de água-benta. A água foi jogada, mas tudo funcionou sem problemas. Outro detalhe: o Brasil não foi pioneiro em televisão na América Latina. Quinze dias antes da Tupi, os mexicanos lançaram o canal 4.

O que se fazia de programação nos primeiros dias, por exemplo, é uma das curiosidades interessantes. A emissora entrava no ar às 20h e encerrava a programação às 23h. Na segunda, a grade era aberta com 'Escola de Inglês', apresentada pelo professor 'Mister Fisk' (alguém aí se lembra dele?), continua com 'documentário filmado', número de circo com Mr. Broni, musical com Zezinho e seu conjunto e desenhos do Pica-Pau. Por fim, 'Imagens do Dia', noticioso da Rui Resende Filmes. No domingo, a programação ganhava duas horas e meia a mais. Começava às 15h30, com o campeonato paulista de futebol, com Jorge Amaral e Ari Silva. Às 18h, pausa de uma hora. Voltava ao ar com um longa legendado. E só.

Gonçalo Júnior
Investnews/Gazeta Mercantil

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