Rio - Com a experiência de seis Copas do Mundo, o ex-técnico da Seleção Brasileira, Zagallo disse nesta quarta-feira que gostaria de ver Romário no Mundial de 2002 e que considera o esquema tático usado por Luiz Felipe Scolari “muito defensivo''.

“Há dois anos, quando Romário tinha 34, eu achava que ele não teria condições de aos 36 disputar uma Copa. Hoje eu penso diferente'', disse o tetracampeão à Reuters, durante a inauguração do Museu do Futebol no Maracanã.

“Ele tem jogado bem e feito muitos gols e é isso que um ponta de lança tem que fazer. Se eu estivesse no comando, o levaria, até pelas dificuldades que estamos tendo com alguns jogadores de ataque, que estão contundidos.''

Zagallo, que tem uma ação na Justiça pedindo indenização por danos morais contra Romário (o atacante pintou uma caricatura do ex-treinador na porta do banheiro de seu antigo bar, o Café Gol), defendeu as atitudes do jogador fora de campo.

''Ele nunca criou problema para mim dentro de uma Copa do Mundo (Romário foi campeão em 1994 e cortado antes do início do torneio de 1998). Nunca desrespeitou as regras. Foi um jogador que sempre fez o que estava determinado pela comissão técnica.”

A opinião de Zagallo recebeu apoio de outros ídolos do passado que estavam no Maracanã.

“É inadmissível deixar de fora um cara como Romário'', disse o tricampeão Gérson. “Se ele (Scolari) cometer esse erro, vai ter que depois agüentar as conseqüências'', previu o ex-jogador, que trabalha como comentarista atualmente.

O principal assunto das conversas – Romário - apareceu também pessoalmente na festa, mas ficou pouco mais de cinco minutos.

Além das palavras protocolares, ele evitou falar sobre Seleção e saiu de fininho, dizendo ter que dormir para agüentar o jogo de quarta-feira à noite do Vasco contra o CSA, pela Copa do Brasil.

Esquema tático

Zagallo também criticou a postura defensiva do time de Felipão. “Se fosse técnico, não utilizaria o 3-5-2 por causa da estrutura do futebol brasileiro, que não está preparada para jogar com este esquema.”

“O 3-5-2 é um esquema defensivo'', disse o veterano treinador, que também já foi muito criticado por jogar na retranca.

“A não ser que ele (Scolari) colocasse apenas um cabeça de área. Agora, um esquema 3 (zagueiros) mais 2 (volantes) é, de fato, um esquema mais defensivo que o 4-4-2 que estamos acostumados.”

Apesar do clima de festa na inauguração do Museu, que oficialmente chama-se Museu Internacional do Futebol Mané Garrincha, Zagallo não poupou críticas à preparação do time brasileiro que vai tentar o pentacampeonato na Coréia do Sul e Japão.

Ele disse que o Brasil está atrasado em relação às demais seleções porque o time titular está sendo montado apenas na reta final, enquanto as demais seleções formaram a base durante as eliminatórias.

Ele acha que a seleção não vai chegar 100 % preparada ao Mundial, mas por pegar um grupo fraco na primeira fase (Turquia, China e Costa Rica) poderá crescer dentro da competição.

No entanto, acredita Zagallo, a tradição vai falar mais alto. “O verde-amarelo tem que ser respeitado. O comandante sempre tem que pensar positivo e acreditar que vai conquistar o título. O Felipão tem que dizer que vai ser campeão'', disse ele em referência à declaração do técnico na terça-feira que o Brasil “vai estar entre os quatro finalistas.''

Quanto ao futuro, o técnico aposentado disse que gostaria de ser comentarista esportivo ou coordenador de futebol de algum clube. Convites, segundo ele, não faltam, mas todos estão sendo analisados com cuidado por causa da crise econômica do futebol brasileiro.

“O Flamengo ainda está me devendo quatro meses de salário. Para você trabalhar de graça é melhor ficar ao lado de sua família que é mais gostoso.''

Reuters