Conheça os passos de Anchieta, o Caminho de Santiago do Brasil
Para conhecer a trilha "Os Passos de Anchieta", no Espírito Santo, é preciso fazer o mesmo caminho que o jesuíta percorreu no século XVI, durante os nove anos em que catequizou os índios da região. É o quarto maior roteiro místico do mundo*. A experiência faz com que as pessoas entrem em contato com um poderoso centro de energia que está diretamente ligado com a alma e reformula o que existe no seu interior, tornando a vida muito mais enriquecedora para o andarilho. Anchieta era chamado de caraibebe (ou abarábebe) que em tupi significa "padre voador" (ou homem de asas). Ele fazia este percurso caminhando 100 quilômetros duas vezes ao mês. O trajeto consistia em sair da aldeia de Rerigitiba, "lugar das conchas" (atual cidade de Anchieta) onde residia, para chegar à Vitória e assim resolver questões administrativas, pois era o diretor do Colégio Jesuíta São Tiago. Neste percurso escreveu com um bastão nas areias das praias capixabas os poemas e seus ensinamentos. No Caminho de Santiago do Brasil, os peregrinos aprendem sobre a história de Anchieta e seus milagres. Também é possível ver os poços de água, que foram construídos por Anchieta com a ajuda dos índios. O caminho pode ser feito a pé, de bicicleta ou a cavalo, e se inicia em Vitória, no antigo Colégio São Tiago (atual Palácio Anchieta, sede do governo; em um dos salões, está o túmulo do padre). O término da trilha ocorre na antiga aldeia de Rerigitiba onde é possível conhecer a casa que foi habitada pelo padre e que abriga um museu com objetos indígenas e peças sacras. Na cidade Anchieta localiza-se a Igreja Nossa Senhora da Assunção, construída por Anchieta em 1568, utilizando óleo de baleia, cal de ostras e conchas; tombada pelo Patrimônio Nacional. O percurso é bem sinalizado, contando com infra-estrutura de apoio para os turistas. Pode ser feito em quatro dias (Anchieta percorria em dois dias, quando caminhava sozinho). Outra lenda revela que para diminuir o sofrimento dos índios que o acompanhavam, o jesuíta teria ordenado para que um grupo de gaivotas voasse sobre os indígenas para garantir a sombra até a chegada do percurso. José de Anchieta foi um dos alicerces da colonização do Brasil, terminando seus dias no Espírito Santo, depois de ter fundado a cidade de São Paulo e ajudar a expulsar os franceses do Rio de Janeiro. Morreu em junho de 1597, aos 63 anos, sendo beatificado em 1980. * Os três mais famosos roteiros místicos são: o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, a trilha da Terra Santa, em Jerusalém e a de Roma, na Itália. Mais informações sobre a trilha: ABAPA - Associação Brasileira dos Amigos dos Passos de Anchieta
Monica Buonfiglio/ Especial para o Terra
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