Sucessão de quebras

Entenda a crise do crédito

Confira os principais acontecimentos da crise econômica, que começou com os empréstimos de risco nos Estados Unidos

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Os primeiros reflexos nos bancos do agravamento da inadimplência no subprime começaram a ser vistos em abril de 2007, quando a New Century Financial, a maior empresa independente de crédito imobiliário subprime dos EUA, entrou com pedido de proteção contra falência e demitiu metade de seus funcionários. Em meados de março, a companhia já tinha parado de conceder financiamentos, abalada pelo aumento da inadimplência.

O repasse das dívidas da New Century para outras instituições financeiras começou a gerar um efeito cascata no setor. Ainda no mês de abril, o Citigroup anunciou perdas de US$ 5 bilhões no primeiro trimestre de 2007 e, em julho, o Bear Stearns decretou a falência de dois de seus fundos de investimento.

Em agosto, o banco francês PNB Paribas disse a seus investidores que eles não conseguiriam resgatar seus investimentos, devido à "completa evaporação da liquidez" do mercado, em um sinal claro de que os bancos estavam recusando-se a emprestar dinheiro uns aos outros. No mesmo mês, o American Home Mortgage, décimo maior banco hipotecário dos Estados Unidos, também declara moratória.

O banco britânico Northern Rock pediu e recebeu ajuda financeira emergencial do banco central. No dia seguinte, os correntistas retiraram cerca de US$ 2 bilhões, em uma das maiores fugas de capital da Grã-Bretanha.

No último mês de 2007, o presidente americano, George W. Bush, anunciou um plano para ajudar 1,2 milhão de pessoas com dificuldade hipotecárias. O Federal Reserve (FED, o banco central dos EUA) coordenou uma ação com outros cinco bancos centrais para enfrentar o problema de falta de dinheiro nos mercados.

A passagem do ano só fez com que os problemas na crise aumentassem. Fevereiro começou com a nacionalização, por parte do governo britânico, do banco Northern Rock. Em 17 de março de 2008, após forte queda de suas ações, o americano Bear Stearns, quinto maior banco dos EUA, foi vendido ao JP Morgan por US$ 236 milhões. Um ano antes da compra, o valor de mercado do Bear era de US$ 18 bilhões. A operação só foi concretizada após o FED ter aceitado financiar US$ 30 bilhões de ativos de menor liquidez da instituição com problemas.

Em busca de capital, o banco britânico Royal Bank of Scotland (RBS) anunciou o plano para levantar dinheiro junto aos acionistas, lançando novas ações no mercado, que chegaram ao valor 12 bilhões de libras (mais de R$ 41 bilhões), o maior lançamento de ações da história corporativa da Grã-Bretanha. Em ações similares, o UBS, um dos mais afetados pela crise financeira mundial, também lançou ações no valor de US$ 15,5 bilhões para cobrir parte de suas perdas, que chegaram a US$ 37 bilhões, e o Barclays também anunciou planos para levantar 4,5 bilhões de libras (cerca de R$ 15,4 bilhões) com lançamento de ações.

Em julho, o IndyMac Bancorp sofreu intervenção por parte de autoridades americanas. O banco viria a pedir proteção à lei de falências apenas três semanas depois. Em agosto, o HSBC alertou que as condições dos mercados financeiros são as mais difíceis "das últimas décadas", depois de sofrer uma queda de 28% em seus lucros semestrais.

No mês de setembro, o governo americano assumiu o controle das gigantes de financiamento de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac que, juntas, detinham quase metade dos US$ 112 trilhões em dívidas com hipotecas no país.

No mesmo mês, outras três grandes instituições financeiras envolvidas na crise de crédito tiveram destinos distintos. Depois da falha na busca por um comprador, o Lehman Brothers - 4º maior banco de investimento dos EUA - pediu concordata, afetado por perdas acumuladas de US$ 7,8 bilhões e uma carteira de ativos que ainda contava com US$ 54 bilhões em investimentos atrelados ao mercado imobiliário com risco potencial de difícil avaliação.

No mesmo dia, o Merrill Lynch, um dos principais bancos de investimento americanos, concordou em ser comprado pelo Bank of America por US$ 50 bilhões para evitar prejuízos maiores.

Um dia depois, a seguradora American International Group (AIG) recebeu um empréstimo de US$ 85 bilhões do governo americano para evitar um possível pedido de falência, após perdas de US$ 18,5 bilhões em três trimestres consecutivos. A empresa foi afetada por ter muitas apólices que protegiam bancos de perdas com investimentos de alto risco.

O banco Washington Mutual - maior de poupança e empréstimos nos EUA - também foi fechado pelo governo, na maior falência de um banco na história do país. Os ativos bancários da instituição foram vendidos ao JPMorgan Chase por US$ 1,9 bilhão. Segundo o órgão que fechou o Mutual, o banco tinha US$ 188,3 bilhões em depósitos e foi descrito como uma instituição de US$ 307 bilhões.

Ainda no mês de setembro, o FED aprovou a transformação dos dois últimos grandes bancos de investimento do país – o Goldman Sachs e o Morgan Stanley – em instituições comerciais

Setembro também marcou o alastramento da crise pelo setor bancário europeu com a nacionalização parcial do grupo belga Fortis, para garantir sua sobrevivência. Autoridades na Holanda, Bélgica e Luxemburgo aceitaram investir 11,2 bilhões de euros na operação.

Na Grã-Bretanha, o governo confirmou a nacionalização do banco de hipotecas Bradford & Bingley. O governo assumiu o controle de financiamentos e empréstimos do banco no valor de 50 bilhões de libras (cerca de R$ 171 bilhões) enquanto suas operações de poupança e agências foram vendidas para o Santander, da Espanha. Já o governo da Islândia assumiu o controle do terceiro maior banco do país, Glitnir, depois que a companhia teve problemas com fundos de curto-prazo.

Outro banco atingido fortemente pela crise, o americano Wachovia, teve sua compra pelo Wells Fargo referendada pelo FED, após uma disputa que também envolveu como possível comprador o Citigroup.

Entenda a crise de crédito

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