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Escritores traduzem mundo adulto para crianças


Sexta, 10 de maio de 2002, 10h51

Os melhores livros infantis revelam não o mundo infantil à criança, mas o mundo adulto. Tem sido assim desde o princípio dessa comunicação por escrito entre os dois universos. Quantro escritores, no entanto, cumprem de forma exemplar o que os escritos infantis têm como meta: traduzir para as crianças o mundo dos homens feitos. São eles Carlo Collodi com As Aventuras de Pinóquio - História de uma Marionete, Giorgio Maganelli com Pinóquio: Um Livro Paralelo, Federico García Lorca com Os Encontros de Um Caracol Aventureiro e Caio Fernando Abreu e As Frangas.

O esplendor infantil é de entendimento óbvio, está nos atos e na fala de uma criança liberta de mesuras, enquanto um adulto terá de suar para inserir encanto naquilo que o cerca e, ainda por cima, comunicá-lo a um receptor de idade tenra. "Pinóquio", que recebe reedição, é desses livros infantis que dizem amplamente sobre o mundo adulto e que interessam à criança justamente por esta razão, com o acréscimo de dizê-lo munido dos malabarismos de fala e de gestos próprios à idade inicial.

Escrito pelo florentino Carlo Lorenzini (1826-1890), o Carlo Collodi, em 1881, primeiro em capítulos num jornal infantil, o "Giornale dei Bambini", e dois anos depois em livro, "Pinóquio" marcou de imediato os leitores por ser inteiramente novo no sentido do uso abusado da linguagem coloquial, esta acrescida de um elemento cômico que a engrandecia, mas também por conter agilidade narrativa e muitas chaves de mistério que abriam portas variadas de interpretação.

Oferecido ao amigo diretor do "Giornale" em troca de dinheiro destinado aparentemente ao pagamento de dívidas de jogo, "Pinóquio" se mostrou de interpretação tão complexa que rendeu há 25 anos até mesmo um ensaio de autoria do intelectual milanês Giorgio Manganelli ("Pinóquio: Um Livro Paralelo"), também editado agora, que explicava relações e insinuações da história, e um filme de Walt Disney de 1943, que, embora deturpasse seguidamente a fábula, ainda a tratava com surpreendentes frescores e esplendor visual.

"Era uma vez...

- Um rei! - dirão logo meus pequenos leitores.

- Não, crianças, erraram. Era uma vez um pedaço de madeira."

Este é o verdadeiro início da fábula, que, segundo a magistral análise do tradutor de Edgar Allan Poe e jornalista Giorgio Manganelli (1921-1990) em seu "Livro Paralelo", sugere a ausência mesmo desta figura deísta que sustenta os cadernos de histórias infantis - o rei. Em "As Aventuras de Pinóquio" (seria preciso unificar as traduções dos dois livros para que pudéssemos lê-los conjuntamente, sem ruídos; a versão de Marina Colasanti para o clássico é desconsiderada por Eduardo Brandão em "Livro Paralelo"), o rei, ou Deus, está substituído por uma outra natureza, a madeira, que, diz o filósofo italiano Benedetto Croce (1866-1952), representa mesmo a humanidade. Pinóquio - ou Pinhão -, este ser de nome pequeno e caricato, nega a majestade em busca do mundano e do terreno.

Ao comentar um a um os 36 capítulos do livro, Manganelli destrói mitos em torno de Pinóquio, o primeiro deles que mostra a marionete como filha de um homem gentil. Gepeto, explica o pensador, não é o pai de Pinóquio: o pai é a madeira crua e falante de onde ele partiu. Tampouco Gepeto é dulcíssimo, mas um velho de peruca loira a quem chamam Polentinha e que está, portanto, longe do marceneiro da fábula bíblica. A marionete se apresenta então como fruto da terra a quem um aperfeiçoamento educativo se faz necessário.

"Pinóquio" foi concebido para que as crianças vejam encanto, verdade ou sentido no mundo dos pais - apesar de tudo. Carlo Collodi ensina que elas devem aceitar a domesticidade, embora não precisem necessariamente aplaudi-la. Se Pinóquio sofre, assim está dito, é porque se recusa a crescer, porque os encantos naturais da infância (o brinquedo, a fuga, o jogo) são armadilhas que excitam o corpo infantil, mas enfraquecem o caráter adulto. Mentir está na lista de primeiros erros: se Pinóquio mente, avoluma-se (alguns querem crer que sexualmente) seu gáudio, representado pelo nariz, mas igualmente a evolução lhe será negada.

Sofrimento de Pinóquio

Dita assim, esta mensagem dentro do livro parecerá torturante a um adulto, que se habituou a ver na criança acerto, criatividade e exemplo, como o pintor Pablo Picasso identificou nela. Mas Collodi, que antes de "As Aventuras de Pinóquio" fizera livros infantis dedicados a um personagem outro, Giannettino, não encaminha esta fatalidade - o crescimento - com regozijo. Ele mostra em detalhes o sofrimento de Pinóquio no intuito de se tornar um adulto a mais. No início do livro, a morte lhe é apresentada, e justamente a marionete a provoca: ela mata o "educador" Grilo Falante numa cena que Disney não ousou reproduzir.

Pinóquio estará cercado da morte a partir de então, e haverá uma cena comovente em que Pavio, seu amigo tornado jumento como ele, expira de exaustão, depois de cinco meses passados no País dos Brinquedos e outra temporada como burro levado a trabalhos forçados, em pagamento à longa diversão.

A marionete é um menino "ruim", sem percebê-lo de imediato, como todas as crianças em quem as regras sociais ainda não repercutiram. O autor reproduz com exatidão as teimosias das crianças em se submeter às instruções, ao mesmo tempo que documenta a aflição dos pais em manter a prole protegida dos perigos da vida - aflição esta presente desde o momento de medicar o filho com líquido amargo à angústia de livrá-lo, sem sucesso, das "más companhias".

E é o mundo do pai a inevitável razão do sofrimento do filho. Manganelli situa este dito segundo o qual, ao dar à luz, os pais de imediato dão às trevas. A vida, crê Manganelli, é o início do aprendizado da morte; portanto, é ela que contagia e degenera, não se podendo negá-la se se desejar provar de seu doce-breve encanto. Educar os filhos é torná-los débeis, obedientes e sedentários como os adultos: é matá-los. Por esta razão, seguidamente, o livro, feito para explicar as razões adultas, toma o partido das crianças em cenas memoráveis, nas quais, por exemplo, Pinóquio briga com os amigos de escola atirando-lhes cartilhas, best-sellers infantis e pesadas aritméticas, num irônico jogo de rebeldia.

Collodi trata de forma mágica este embate, e ao mesmo tempo que crucifica, aplaude a inevitável educação infantil. Ele tortura Pinóquio, não sem depois acariciá-lo, mas é certo que só lhe dará dignidade quando a Fada, sua mãe, transformá-lo em menino. A marionete, por sua vez, só será menino, ou humano, quando admitir o mundo do trabalho: o primeiro emprego de Pinóquio será ironicamente como burro de carga. Está explicado, em "Aventuras de Pinóquio", um sentido para a vida na qual William Shakespeare viu som e fúria. Não é pouco feito para um autor.

García Lorca

O espanhol Federico García Lorca (1899-1936) tinha, como Collodi, a rebeldia no sangue. E, a seu modo, era também um educador. Poeta e dramaturgo, pela clara posição contra o autoritarismo franquista caiu fuzilado por falangistas, aos 38 anos, na Granada onde passava férias. Era, contudo, uma alma gentil, e seu amigo, o cineasta espanhol Luis Buñuel, seguidas vezes sofreu ao imaginá-lo capturado na armadilha da morte, frágil.

É curioso que seus escritos não sofram da debilidade que Buñuel via pessoalmente nele, nem que esses textos costurem quaisquer possibilidades de dúvida, ao leitor, quanto à firmeza de suas posições filosóficas e políticas. Em "Os Encontros de Um Caracol Aventureiro", livro que contém sete de seus poemas dirigidos a crianças, com organização e tradução de José Paulo Paes, Lorca se mostra especialmente interessado em demolir os pilares da religião e do Estado autoritário.

O poema "Os Encontros de um Caracol Aventureiro" é um tiro ao conformismo. O caracol, ele descreve, é o "pacífico burguês da vereda, ignorado e humilde", que passa lento e assustado entre duas rãs miseráveis, habitantes da escuridão. Elas querem que ele acredite na vida eterna, mas somente por respeito à prole: "Eu fico emocionada ao sentir a firmeza com que meus filhos chamam Deus lá de dentro da água", diz uma delas. Mais adiante, o caracol depara com uma formiga sem pernas, condenada a morrer solitária pelas companheiras de formigueiro somente porque viu as estrelas, "milhares de olhos dentro das minhas trevas". Mesmo assim, o caracol burguês não se sensibiliza a mudar: "É por aqui que se chega às estrelas. Mas como sou tão lento lá nunca irei chegar. Não há por que pensar nelas."

Há beleza em cada verso deste livro, desde aqueles duros, em que um cigano se vê espancado com "vinte e quatro, vinte e cinco bofetadas" depois da morte do tenente-coronel, àquele poema amoroso breve, intitulado "É Verdade": "Que trabalho mais molesto querer-te como eu te quero!/ Por teu amor dói-me o ar/o coração/e o chapéu./ Quem compraria de mim esta fitinha que tenho e esta tristeza de fio branco, para fazer lenços?/ Que trabalho mais molesto querer-te como te quero!" Pena que esta bela edição, ilustrada pelo mesmo Odilon Moraes de "As Aventuras de Pinóquio", cometa deslizes como o "hereje" que escapou à revisão na página 10.

E há Caio Fernando Abreu (1948-1996), em "As Frangas", para comunicar o mundo adulto à moda de "A Vida Íntima de Laura", de Clarice Lispector. O escritor gaúcho quer transmitir à criança o prazer de contar uma história, porque fazendo isso "o coração da gente fica mais quentinho e a gente gosta mais das pessoas".

Neste livro, ele narra sua experiência como colecionador de pequenas estátuas de galinhas; transforma-as em personagens com procedência geográfica e manias de mulher, figuras simpáticas sobre as quais ele raciocina sem a perplexidade que Clarice traduz em "A Vida Íntima...", mas com devaneios de alguma filosofia, da qual constantemente se desculpa. É um livro de frases musicais e, entre os comentados anteriormente, o que carrega alguma doçura, algum desentendimento do futuro, alguma alienação dos sofrimentos de crescer, um livro excetuado das regras educativas, feito da criança que Caio era para as crianças felizes que hoje são.

Investnews/Gazeta Mercantil

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