Danilo Fantinel / Redação TerraO cantor Ney Matogrosso voltou aos palcos em 2001 em um show que homenageia a música dos anos 30 e 40. O repertório, baseado no álbum Batuque, lançado em março, é repleto de composições antigas que estão na memória afetiva do público, principalmente aquelas imortalizadas pela voz de Carmem Miranda, como O que é que a baiana tem?, Vatapá e Tico-Tico no fubá. Samba, choro e maxixe são o tripé desse trabalho, que estreou no Rio no início de junho, passou por Curitiba e agora está em Porto Alegre (veja programação abaixo).
O disco e o show Batuque, entretanto, não são meramente uma retomada de canções antigas, na opinião de Ney. "Não é um resgate porque não considero esse um repertório perdido. Ele está esquecido. Mas ele é muito bom, representa compositores e épocas da música brasileira muito ricos. E isso tem que ser desfrutado", disse, chamando atenção para a péssima fase da música popular. "Em parte", completa. "Acho Lenine, Pedro Luís, Itamar Assumpção e Paulinho Moska muito bons".
Os novos arranjos para músicas que são verdadeiros ícones da cultura brasileira são inevitáveis para o cantor. Intérprete brasileiro dos mais importantes, Ney se dá ao luxo de transitar pelo que de melhor foi produzido por aqui. "Pego repertórios já gravados e não tenho medo disto. Canto músicas de Chico (Buarque) e dou o meu ponto de vista sobre o trabalho. O Chico chegou a dizer que sou co-autor de suas músicas", comemorou Ney. Batuque tem canções de Joubert de Carvalho, Olegário Mariano, Dorival Caymmi, Nelson Gonçalves, Synval Silva, João da Baiana e músicas de domínio público, como Roxa, já cantada por Clementina de Jesus.
Aprendizado
Esse universo de compositores e canções, transmitidos para todo o Brasil pelo rádio, serviu a Ney como uma escola. "O rádio foi a minha formação musical. Antigamente ouviam-se músicas do mundo inteiro, e todas de boa qualidade", lembra. Essa época fértil da música popular foi homenageada em Batuque com ajuda do universo acústico negro e carioca. "Nunca fiz nada tão claro nesse sentido", comenta.
Ney leva ao palco uma banda de nove músicos, praticamente os mesmos que gravaram o CD. "No estúdio sempre há mais recursos. Algumas músicas sofreram pequenas alterações para o show". O figurino, inspirado nas roupas de Carmem Miranda, foi feito em parceria com o estilista Ocimar Versolato. "A única coisa que eu queria que levemente esbarrasse em Carmem Miranda era o figurino. Sem ser uma cópia. Usamos inclusive uma roupa minha antiga, toda bordada, que foi reconstruída para integrar o figurino", comentou.
O cantor, que faz 60 anos em agosto, disse que está cansado de viajar. Os shows claro que não representam problema. Mas os aeroportos estão tirando a paciência de Ney. "Estou achando insuportável viajar. Queria uma máquina que me desmaterializasse e eu aparecesse lá. Seria uma maravilha", diverte-se. Depois de tantos anos na estrada, Ney chamou atenção para a homogeneização do povo brasileiro, em grande parte promovida pela televisão. Disse que a platéia de todos os estados estão muito parecidas, impedindo que o artista sinta as reações diversas do público de diferentes lugares do país, como acontecia antigamente.
Apesar disso, a uniformidade da platéia surge como um ponto favorável para o cantor. "O show tem uma receptividade enorme. A impressão que me dá é que são músicas de sucesso, mas não são. Estão no inconsciente do Brasil", comemora.
Serviço:
Programação
29 e 30 de junho e 1° de julho: Porto Alegre
1º de julho: Pelotas (RS)
03 e 04 de julho: Florianópolis
07 de julho: Punta del Leste (Uruguai)
27 a 29 de julho e 3 a 5 de agosto: São Paulo
11 e 12 de agosto: Salvador
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