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O prato globalizado

Há muito tempo não ia a uma churrascaria sistema rodízio. Talvez, por uma opção pessoal em reduzir o consumo de carnes vermelhas, porém, domingo passado resolvemos almoçar em uma dessas churrascarias paulistanas. Escolha feita. Chegamos e, logo na chegada, notamos que a casa estava absolutamente lotada - o que atestava a qualidade do local. Recebemos o ticket de espera número 167 e a recepcionista nos informou que a espera seria de 40 minutos. Achei que iria demorar mais, pois estavam chamando o número 98. Mas não esperamos mais do que o estimado.

Sentamos, pedimos bebidas e partimos para o ataque ao buffet de saladas e frios. Notei que o buffet em si já era um restaurante, tal a variedade de produtos oferecidos, gastronomicamente todos "meia-boca", mas como a proposta não era um almoço gourmet, tudo bem. Só que a mesa em que nos sentamos estava ao lado do buffet e, instintivamente, passei a prestar atenção aos pratos que os clientes montavam. Aí descobri que é possível globalizar a culinária em um só prato.

Assisti à montagem de um prato composto por maionese de batatas (origem alemã), uns 4 ou 5 sushis (origem japonesa), um pouco de coalhada seca, babaganough e kibe cru (oriente médio), roast beef fatiado (inglesa), depois folhas verdes (internacional) cobertas com carpaccio (italiana). Bem até aí, estava até indo bem.

O mais interessante foi a sobreposição dos molhos. Primeiro tudo foi regado com shoyu por causa dos sushis, depois molho de alcaparras para o carpaccio, coberto também com molho rose e um toque de molho mostarda. Como faltou um "molhinho para a salada verde" tudo foi regado com vinagrete, sem esquecer uma paradinha nos temperos e um "splash" de azeite de oliva, aceto balsâmico e catchup. Tudo salpicado com alho dourado e crocante. Descobri, então o que é a tal "fusion food", e notei que não somente um, mas a maioria dos clientes preparava seus pratos da mesma maneira.

Certamente qualquer manual gourmet reprovaria tal composição, porém ao ver a expressão de felicidade estampada nos rostos dos clientes arrisquei uma "mistureba" bem parecida com um pouquinho mais de critérios na escolha dos molhos, e confirmei que comida boa é aquela que nos traz felicidade, aquela de vem de nossa intuição.

Não nos deixemos enganar pela antiga tirania "gourmet" que classificava como "brega" tudo aquilo que não fosse ditado por meia dúzia colunáveis. E a carne? Bem a carne a essa altura do campeonato já não tinha a menor importância. É isso aí, viva a liberdade gastronômica.

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