Segunda, 12 de março de 2001, 18h38

2001 é o ano mais internacional da história do Oscar

A 73ª edição de entrega do Oscar tem grandes chances de converter-se em uma festa hispânica com Javier Bardem, Benicio del Toro e a equipe de Amores Perros como os principais protagonistas de um movimento espanhol que atualmente está mantendo aberto as portas desta indústria.

Bardem já marcou a história da premiação conseguindo a primeira candidatura ao Oscar para um ator espanhol, enquanto os sonhos de conquistar a estatueta de Amores Perros tem sido visto como uma mostra do ressurgimento do cinema mexicano.

Dois atores nascidos em Porto Rico, Benicio del Toro e Joaquin Phoenix, competem na categoria de Melhor Ator Coadjuvante por Traffic e Gladiador, respectivamente.

Se Del Toro ganhasse a estatueta por seu papel interpretado principalmente em espanhol, esta seria a segunda vez na história do Oscar que um ator norte-americano seria premiado por atuar em um idioma que não é o inglês, uma honra que conseguiu Robert De Niro em The Godfather II, em italiano.

Na categoria de curtas-metragens o brasileiro Uma História de Futebol, de Paulo Machline, com roteiro assinado por Maurício Arruda, José Roberto Torero e o próprio Machline, leva às telas americanas a vida de um dos maiores astros de todos os tempos: o rei Pelé. Além disso, o comitê de seleção do melhor curta escutará em espanhol a produção alemã entitulada Quiero ser (I want to be), rodada en México, enquanto o espanhol, Carlos Granjel, nos créditos de outro curta-metragem, neste caso de animação, como desenhista dos personagens de The Periwig-Maker.

A imprensa de Hollywood descreveu esta edição do Oscar como o ano mais internacional de sua história, com filmes como o taiwanês O Tigre e o Dragão, rodado em mandarim e com uma trama oriental, aspirando a dez estatuetas, o maior número acumulado por um filme estrangeiro, incluindo Melhor Filme.

"Assim é como serão os filmes do novo milênio", assegurou o jornal Los Angeles Times, querendo entender esta ampla presença estrangeira como o fruto de uma globalização na linguagem cinematográfica.

Na categoria de Melhor Diretor, apenas um dos candidatos, Steven Soderbergh, é norte-americano. Junto a Bardem outros estrangeiros como a francesa Juliette Binoche, os britânicos Julie Walters, Albert Finney e Judi Dench, ou os australianos Russell Crowe e Geoffrey Rush disputam em diferentes categorias uma premiação tipicamente hollywoodiana.

"Tudo isso é uma anomalia", afirma para a imprensa David Dinerstein, co-presidente da Paramount Classics, que crê que esta tendência não continuará.

Seu pessimismo é sustentado por outros experts no mercado de Hollywood como Tom Bernard, co-presidente dos estúdios Sony Pictures Classics. O taiwanês Ang Lee "é um realizador que aprendeu sua técnica nos Estados Unidos. Seu estilo é mais norte-americano que estrangeiro", assinala Bernard em referência ao êxito de O Tigre e o Dragão.

Para recalcar este pessimismo é só lembrar a situação vivida em outras edições, quando o êxito de outros filmes estrangeiros como A Vida é Bela, O Carteiro e o Poeta e Cinema Paradiso fez pensar que Hollywood abria finalmente suas portas a outras culturas, só para vê-las fechadas mais uma vez.

"Hollywood não oferece tantos papéis bons para um ator hispânico", reconheceu Bardem em sua última passagem por Los Angeles. Apesar disso, o intérprete reconheceu que não se pode deixar-se levar pelo pessimismo e que, apesar dos problemas, "é curioso que para um espanhol seja mais fácil trabalhar nos Estados Unidos que na Europa".

Alejándro González Iñárritu, diretor de Amores Perros, comparte o mesmo espírito, convencido de que, se o caminho em Hollywood é duro, sua repercussão internacional é tão grande que vale a pena.
"Está claro que quando se prova algo como consumidor, sendo um novo restaurante ou um novo tipo de filmes, se você desfrutou a experiência está disposto a porvá-lo novamente", acredita Dinerstein.

O melhor exemplo disto é o sabor na boca deixado pelas últimas mostras de bilingüismo em inglês e espanhol em Traffic e Before Night Falls, de que espera aproveitar-se a futura estréia La Virgen de los Sicarios, rodada en espanhol por Barbet Schroeder.

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