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CARTAS DO REICHENBOMBER - Opus 31


- atendendo a solicitação de alguns cinéfilos e retardatários, estou adiando o resultado da enquête Perturbadores e Ignóbeis para uma das próximas cartas -

Prezados amigos,

quero agradecer as manifestações de entusiasmo referentes às duas cartas anteriores e, em especial, a ansiedade e cobrança daqueles fiéis que reclamaram a ausência da coluna na semana do carnaval.


A atriz Vivian Hsu

O Bomber trocou a folia por uma exaustiva navegação pela Net, em busca de um rosto feminino excepcional (as razões para isso explicarei em momento propício). Foram dias e noites trafegando pelos sites mais esdrúxulos possíveis: do soft menos revelador ao hard mais escancarado; das estrelas mais pudicas do cinema hindu às estonteantes centerfolds do sátiro e trígamo(?) Mr. Heffner. Entre as pérolas encontradas, vale a pena socializar com os leitores o endereço das vestais do cinema de Hong-Kong, fotografadas sem muito recato. https://www.webrealm.com/1/value/

É bom saber que alguns dos banners do site possuem um visual exageradamente ginecológico e explícito, quando não escatológico, que podem fazer corar quem não é do ramo. Há também uma exasperante lentidão na troca de páginas, mas todo o sacrifício se justifica diante da imensa beleza de mimos exóticos como Hsu Chi, Chung Chun, Vivian Hsu e Loretta Lee.

As salas lotadas do Oscar 2.000 substituí por alguns vídeos adquiridos de segunda mão e a locação de alguns títulos em vias de sumir de catálogo. Conforme meus amigos mais próximos não perdi nenhuma obra extraordinária. No geral, são filmes que se justificam essencialmente pela excelência de seus atores. Em BELEZA AMERICANA (que vi na inauguração da Sala UOL, em Sampa), contestação retardatária avalizada pela Dreamworks de Spielberg, nada transcende a atuação de Kevin Spacey. O INFORMANTE parece confirmar Michael Mann como um mix de Oliver Stone e Alan Pakula. Tanto Mann quanto Stone filmam a mesma cena de vários ângulos diferentes, normalmente com a estratégia televisiva das duas ou três câmeras simultâneas, desativam o estabilizador de trepidação do steady-cam, adoram um visual esquisito, revisitam temáticas "polêmicas" (ou "da hora") e jogam a toda a responsabilidade nos ombros de seu elenco e, pior, dos seus editores. As fotos de cena e os cartazes lembram o jeito de enquadrar de Alan Pakula. Aliás, mesmo sem ter visto o filme, e só pelo trailer, O INFORMANTE lembra bastante TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE, o melhor filme dirigido pelo produtor e sócio de Robert Mulligan. QUERO SER JOHN MALKOVITCH foi reduzido por Jairo Ferreira a um só adjetivo: debilóide. O TALENTOSO RIPLEY é diluição prêt-a-porte. À ESPERA DE UM MILAGRE parece ser um recuo na carreira promissora de Frank Darabount; arquétipos e clichês óbvios em intermináveis três horas de boas intenções. No entanto, falam bem do novo filme do canadense Norman Jewison, que é daqueles capazes do melhor clássico e/ou do pior acadêmico. HURRICANE - O FURACÃO tem, sobretudo, o mérito de ser protagonizado pelo melhor ator da atualidade, Denzel Washington, que, se não levar a estatueta este ano, é, na certa, preconceito da Academia.


Berlim comprovou: o grande filme americano do ano é realmente MAGNÓLIA, do ótimo Paul "Boogie Nights" Anderson. Lendo o Jornal do Vídeo deste mês descubro que os direitos para o Brasil foram comprados recentemente pela Playarte, o que irá retardar o lançamento do filme por aqui.

Bom mesmo foi ter descoberto nas prateleiras da locadora mais próxima, um petardo assinado por Mario Van Peebles: PANTERAS NEGRAS. Eis aí o que todo o filme militante deveria ser: direto e atordoante como um murro no estômago. O roteiro do papai Melvin, conta, sem nenhuma firula, a sua versão da história de um dos movimentos contestatórios mais combatidos da história política da América do Norte. Como cinema, é puro Raoul Walsh: ágil, físico e eficaz. Querem saber como, e porque, a heroína invadiu os States, incentivada pelo FBI ? Vejam o filme. Paranóia conspiratória ? Ninguém processou a família Van Peebles pelas denuncias explicitadas em PANTERAS NEGRAS. Americano pode ser arrogante, vazio, autocentrado e muitas vezes burro, mas quando resolve colocar o dedo na ferida, vai fundo mesmo!

O grande ator Edward J. Olmos teve que mudar, com família e tudo, de onde morava, por ter sua cabeça colocada à prêmio pela máfia mexicana de Los Angeles, ao lançar o único longa metragem que dirigiu e produziu, AMERICAN ME (92). Trata-se de um dos filmes mais corajosos, violentos e incômodos do moderno cinema americano. Como a maior parte da narrativa se passa dentro uma prisão, Olmos não se acanha em mostrar algumas das cenas mais realistas de sodomia e sadismo já filmadas. O que surpreende é que nenhuma destas seqüências foram realizadas para tornar o filme mais atraente ou comercial. Ao contrário, AMERICAN ME foi muito mal nos Estados Unidos e, assim como PANTERAS NEGRAS, só ganhou prêmios e prestígio no exterior. No Brasil, foi lançado somente em vídeo e de maneira bem precária. Para encontrar uma cópia é preciso rastrear as locadoras pequenas e menos óbvias. Tanto PANTERAS NEGRAS quanto AMERICAN ME poderiam fazer parte de uma lista acurada de filmes perturbadores, pois transpiram realidade e indignação por todos os fotogramas.

Falando em Jornal do Vídeo, recomendo a aquisição do número de março a todos aqueles que ainda possuem dúvidas sobre o DVD. Há um encarte especial dedicado ao novo suporte que vale por uma enciclopédia sobre o assunto. Todas as informações, os termos técnicos, as vantagens e desvantagens do sistema, são analisados de forma objetiva e fácil de entender. Como se não bastasse, estão listados todos os títulos disponíveis no mercado brasileiro. Infelizmente, o Jornal do Vídeo, que apesar do nome é uma revista mensal, substanciosa, impressão impecável, e, às vezes, exaustivamente informativa (uma vantagem imensa que a coloca muito acima de suas concorrentes como a SET e um certo port-folio da indústria americana lançado recentemente) não é vendido nas bancas de jornais. Quem quiser adquirir exemplares avulsos ou fazer assinatura vai ter que telefonar para São Paulo, (11) 263-7555, ou acessar o seguinte endereço eletrônico:

video@ibm.net

Aproveito também para divulgar o novo endereço da CONTRACAMPO, que está visualmente mais atraente (também, tem uma foto de ALMA CORSÁRIA logo na entrada do site anunciando o novo milênio!), mas com a mesma qualidade de análise e aprofundamento sobre o ver cinema, que a destacou das demais revistas eletrônicas no ano passado.

https://www.contracampo.he.com.br/

Entre a correspondência recebida quero destacar, em especial, três e-mails que esbanjam subsídios complementares à respeitos de autores e filmes citados nesta coluna.

Do Rio de Janeiro, o crítico, cineasta e ensaísta João Carlos Rodrigues, amplia o inventário da obra surpreendente do recém-falecido Riccardo Freda.

"Sei que estou chegando atrasado nessa história, mas tenho alguma coisa a dizer sobre o Ricardo Freda e o filme que ele fez no Brasil, O Caçula do Barulho.


Gianna Maria Canale em "I Vampiri"

Acho um reducionismo estéril exaltar a segunda fase da carreira dele, quando dirigiu sob pseudônimos tipo Robert Hampton e outros, ignorando a primeira, realmente mais importante, tanto que assinava o próprio nome. Seus filmes mais importantes não foram de terror ou policiais, mas os históricos que realizou com a Gianna Maria Canale, então sua esposa. Entre eles se destacam Teodora, Imperatriz de Bizâncio e Espártaco - ambos na primeira metade dos anos 50. O último filme que fizeram juntos foi justamente I Vampiri , que ele abandonou no meio. Alguma coisa de grave deve ter acontecido para ele largar o filme e a mulher, e precisa ser melhor pesquisado. Era uma criatura de convívio impossível, brutíssimo, histérico e coisa e tal. Tanto que foi posto pra fora poucos anos atrás da direção de A filha de Dartagnan porque se engalfinhou com a protagonista Sophie Marceau. E olha que já tinha mais de 80 anos, então imagine antes! Parece que teve ligações com o governo fascista do Mussolini, a briga com os neo-realistas não foi apenas por motivos de estilo cinematográfico.


Lúcia Bosé, Miss Itália 1947

Sobre a Gianna Maria Canale. No concurso Miss Itália 1949 ela tirou segundo lugar. Para ter uma idéia do nível das concorrentes : o primeiro lugar foi a Lúcia Bosé, o terceiro a Gina Lollobrigida e o quarto a Eleonora Rossi Drago. La Canale (sem dúvida uma das mulheres mais lindas do mundo em todas as épocas) foi viver com o Freda, 20 anos mais velho, e já casado. Como na Itália nessa época não tinha divórcio, foram processados por bigamia e acabaram batendo os costados no Rio de Janeiro , onde fizeram Il Guarany (co-produção sobre a vida do Carlos Gomes) e O Caçula do Barulho (chanchada da Atlântida). Ela foi a grande musa do Freda na sua melhor fase, fizeram quase 10 filmes juntos. Quando se separaram ela tornou-se a rainha do filme italiano classe C, especializada em papéis de malvada etc. Quem viu o primeiro Hércules do Steve Reeves (direção Pietro Franceschi) não vai esquecê-la jamais no papel de Antéia, rainha das amazonas. Trabalhou também com Abel Gance, Vittorio Cottafavi, Christian Jacque, John Guillhemin, Sergio Corbucci. Seu último filme foi Il Boom do Vittorio DeSicca, que nunca passou fora da Itália. Retirou-se do cinema em 1965, antes dos 40 anos. Continua viva, mas dizem que está louca. Envia fotos para os fans (desde que peçam com resposta paga) no seguinte endereço: 8 via A.Richelmy , Roma 1-000165, Italia. Filmografia completa na Internet:

https://homepages.msn.com/LyricL/umgu.

Agora sobre o filme Caçula do Barulho. Roteiro e direção de Ricardo Freda. Diálogos de Alinor Azevêdo.
Elenco : Anselmo Duarte, Gianna Maria Canale, Luiz Tito, Oscarito, Grande Otelo, Beyla Genauer.
Foi o filme que estruturou a fórmula milionária da Atlântida, misturando comédia e trama policial. Não foi Carnaval no Fogo, como diz a maioria dos críticos. O enredo é mais ou menos o seguinte. Anselmo Duarte é o caçula de vários irmãos fortíssimos, que toda hora tem de intervir para salvá-lo das encrencas onde se mete. Seu melhor amigo é Oscarito. Um dia vê num teatro uma mulher deslumbrante (Gianna), tenta se engraçar, mas ela vive cercada de capangas mal encarados. Resolve investigar e descobre que ela vive prisioneira do Luiz Tito, e decide libertá-la. Há pelo menos uma seqüência inesquecível. Várias refugiadas européias chegam ao Rio para trabalhar em teatro, estão desfazendo as malas todas contentes, quando entra a bela Gianna e conta (em português corrente com leve sotaque) que, assim como ela, foram enganadas, e estão destinadas a ser escravas brancas! Há outro bom momento quando Grande Otelo é assassinado por acobertar o namoro dela e Anselmo. No final, evidentemente, os irmãos fortões intervém, derrotam os bandidos e o casal vive feliz para sempre. Detalhe interessante : Freda ensinou aos cineastas brasileiros a filmar uma briga de socos verossímil, com os cortes no lugar certo, sonoplastia adequada etc. Antes parece que era uma coisa deplorável. Outra curiosidade: ao beijar Gianna em cena, Anselmo beijou de verdade, com língua e tudo. O Freda ficou uma fera e profetizou que ele nunca faria uma carreira internacional (isso está na entrevista do Anselmo no Pasquim e também no livro dele).

Em tempo: o filme não passa no canal Brasil pois não tem cópia circulando. Mas quem quiser uma cópia sofrível em video (a única que existe) é só escrever para: Paulo Tardin - Caixa Postal 620 - Bom Jesus do Itabapoana - RJ - 28360 / 00. Boa sorte."

João Carlos Rodrigues


Falando em Vampiri, quem estiver interessado em conhecer os títulos de todos os filmes feitos sobre vampiros na história do cinema, vá ao seguinte endereço (francês):

https://members.xoom.com/Blobula/filmographie.htm

Em outro endereço, é possível ler um ótimo texto sobre I VAMPIRI e outros clássicos do terror italiano e sobre a sua época de ouro (57-79):

https://www.imagesjournal.com/issue05/infocus/ivampiri.htm#top

Mais um endereço eletrônico para os fãs do cinema italiano, dito alternativo:

https://cinextreme.fsn.net/italyonf.htm

No número atual de Italia On Fire, um inventário da obra se Sérgio Bergonzelli, pai do erotismo à italiana.

De Porto Alegre, o informadíssimo Carlos Thomas Albornoz isenta Walerian Burowczyk da responsabilidade do "fenômeno" EMANUELLE 5.

"Parabéns pelo seu último artigo, publicado no ZAZ sábado passado. É raro ver alguém escrevendo sobre erotismo no cinema a sério, com conhecimento de causa. Só tenho dois pequenos reparos sobre um filme que é a "Ovelha Negra" de um de meus cineastas favoritos, Walerian Burowczyk. Mais especificamente, "Emanuelle 5".

Buro dirigiu um pouco mais de 20 minutos do referido filme. Com alguns dias de trabalho (que ele encarava como um favor ao produtor, que queria dar alguma credibilidade à série) indispôs-se com a estrelinha, Monique Gabrielle. Um assessor seu acabou assumindo o trabalho.

E o filme existe em duas versões, bem diferentes uma da outra. A européia é até assistível, mas a norte-americana é absolutamente intragável, com até um pouco de racismo. Inclusive a versão norte-americana dá crédito a outro diretor, norte-americano, responsável pelas cenas a mais.


Monique Gabrielle é "Emanuelle 5"

É fácil diferenciar as duas: a versão européia começa com a exibição do filme "Sex Express" (aonde Emanuelle trabalha como atriz), que está sendo mostrado no Festival de Cannes. Uma bela seqüência, que dura 8 minutos, facilmente identificável como sendo de Burowczyk, inclusive com uma citação ao ovo de "La Marge". A versão americana corta esta cena inteira (alegação: o público não ia entender)... O problema foi que a versão original, que tinha 85 minutos, teve quase 20 tesourados para receber a classificação "R" nos cinemas americanos. Isto forçou os produtores a rodar mais algumas seqüências para "completar" o filme, deixando-o com tempo "lançável".

O corte mais curioso ocorre em uma orgia, em que os produtores americanos cortam as mulheres negras tre... fazendo amor com Emanuelle. Na versão americana ela aparece em intercurso lésbico somente com umas loiras...se isso não é racismo eu não sei mais o que é!!! Curiosamente os produtores resolveram incluir alguns tiroteios para completar o filme, normalmente matando negros e árabes. Sacanagem não pode, violência é legal? Putz, que moral ... "

Carlos Thomaz do Prado Lima Albornoz

De São Paulo, o dr. Luiz Ribas, que assina a ótima coluna de cult movies do site do DVD Sunrise (endereço abaixo) - que, na edição mais recente, destaca a obra de Mario Bava, o mestre do giallo - amplia a discussão sobre erotismo e pornografia no cinema, lembrando um diretor de ponta que trafegou pelo meio de campo, e que o escriba havia esquecido: Alain Tanner.

https://www.dvd.sunrise.com.br/

"Li suas observações sobre o erotismo e a pornografia no cinema, e, como um profundo admirador do dito cinema "transgressivo" (talvez o que de melhor se produza hoje no mundo), concordo plenamente sobre as dificuldades existentes em se filmar seqüências eróticas. Já, em diferentes ocasiões, com papos com cineastas distintos, este ponto sempre foi levantado. Parece que sempre existe uma questão básica: o público acredita ser "uma maravilha" estar envolvido numa produção com sexo correndo ao longo de tudo, mas não faz a mínima idéia do quanto de trabalho é necessário para se criar o clima erótico (e isto, venhamos, ocorre também no cinema abertamente pornográfico). PARABÉNS por sua citação (ou exposição) em relação a ter sido o fotógrafo de Jean Garret. A maioria dos diretores teriam claramente encoberto esta situação, o que não foi o seu caso. Vejo que aconteceu o mesmo com Mojica, por pura questão financeira, e este também não se colocou na forma de abolir de sua carreira certos trabalhos "hard".

Fico aqui pensando na situação de Tata Amaral em "Um Céu de Estrelas", e como toda aquela seqüência pode ser realizada. Só consigo imaginar como deve ter sido árduo o trabalho de "sair" de um clima estupidamente agressivo (no qual toda a equipe deve ter se envolvido), para contrapor uma seqüência erótica absolutamente coerente e crível (logicamente a crueldade da situação continua presente, mas o sexo parece que dá um certo ar de redenção momentâneo).

Incrivelmente, suas lembranças de três realizadores me fizeram escrever esta. Não vou me importar em absoluto com Grimaldi, pois esta novela me parece a mesma que Alain Tanner desenvolveu em "Le Journal de Lady M.". Mas Tinto Brass e Walerian Borowczyk merecem certo grau de atenção. Adoro os trabalhos de Brass no início de sua carreira, até achando que realizou uma obra prima MESMO: "DROP OUT", mas seu filme posterior, "Salon Kitty", também me chama a atenção, e muito. Fui com Brass até "Miranda", sempre encontrando algo que realmente me despertava interesse. Entretanto, apesar de minha terrível insistência quando acompanho um realizador, não encontrei mais o criador-Brass de "Drop Out" e de seu filme que mais gosto: "Nero Su Bianco" após "Miranda", mas um diretor que se perdeu diante de tantas e tantas tentativas de chocar o público (não vejo nenhum erotismo em "L´ Uomo Che Guarda", mas até uma hilária tentativa erótica numa praia de nudismo). Concordo plenamente com você que "Calígula" não é Brass, mas sim uma aberrante demolição de uma obra por parte de um tal Bob Guccione (o documentário realizado antes da estréia de "Calígula", que consta no DVD, mostra claramente o empenho de todos no que poderia ser uma grande obra, principalmente o entusiasmo de Gore Vidal e do elenco em relação ao filme - isto tudo sem que ninguém soubesse o que Mr.Penthouse iria aprontar depois). Agora, exceto "Paprika" (este até pode ser engolido), Brass acabou me decepcionando por não conseguir, na verdade, nenhuma outra obra que se pudesse comparar com sua filmografia inicial.

Já Borowczyk me parece um caso a parte. Talvez seja o oposto de Brass, pois alguns de seus filmes mais atuais (apesar da inquestionável obra-prima que é "Goto"), me parecem extremamente dignos. Poucos conseguiram uma obra tão abertamente selvagem e cruel quanto "La Marge" (o título em português é fantástico: "Por Que Agrado Aos Homens"). Vi este no cinema, numa época em que tudo era podado, e, na saída, fui tomado por um ódio incrível: haviam cortado o final do filme! Hoje, revendo o filme em vídeo, fica a nítida sensação de que se trata de uma grande obra. Seu "Lulu" (80), com Udo Kier como Jack, o Estripador e o posterior "Docteur Jekyll et Les Femmes" (81), também com Kier, me parecem seguir o caminho de Paul Morrissey com seu "Dracula" e "Frankenstein". Felizmente parece ter parado após o inacreditavelmente estúpido "Cérémonie d'Amour" (88). Mas a coerência de sua obra é inquestionável.

Parabéns por estas lembranças. A terceira aqui fica por conta de Lydia Lunch - Paul Kern. Aqui sim a questão é séria e com elementos altamente transgressivos."

LUIZ RIBAS


Quero agradecer também as palavras do colega colunista Mauro Menine, do zine eletrônico Bodoqe (faltou mandar o endereço), que foi o último leitor a enviar sua relação de filmes perturbadores:

"Sunrise" de F.W.Murnau

"Orfeu" de Jean Cocteau

"Antologia Surrealista 1 e 2" Vários: Antonin Artaud, Man Ray, Duchamp, etc.

"L'age d'or" de Buñuel

"Limite" de Mário Peixoto

Recebi também e-mail do leitor Israel Augusto Moraes de Castro cobrando a minha posição pessoal diante de matéria recente da revista VEJA sobre o apartamento e os problemas contábeis que estão infernizando a vida da atriz Norma Bengell.

Volto à insistir nas minhas dúvidas e indagações a respeito do interesse deste semanário em denegrir sistematicamente a imagem do cinema brasileiro. Continuo achando que por trás de tudo está a guerra surda entre duas mega-empresas da comunicação: a Abril e a Globo. Como a maior parte dos interesses são comuns (publicações, tv a cabo, Banda B, Banda C e outras bandas), e só a Globo anda de olho no cinema (leia-se a grana do Lei do Audiovisual) ... Há algum tempo, vingava o discurso neo-liberal: fora o paternalismo do Estado ... cinema é indústria ... mercado é cultura, e vice-versa ... Agora, o buraco é mais em cima. Uma briga de titãs, onde nenhum Jasão tem a petulância de se meter. Afinal, foram estes titãs que se fortaleceram e se impuseram durante o regime militar.

O triste desta história toda é que ela envolve um ser humano especial, à quem a tão decantada retomada do cinema brasileiro deve seu start. Quem fez a cabeça do ex-presidente Itamar Franco para limpar os dejetos do sr. Collor de Melo na área da cultura brasileira foi dona Norma Bengell.

Neste cipoal de perversões causadas pela especulação financeira na produção de filmes, quem dá a cara para bater é somente aquele que faz. Aquele que precisa hipotecar a casa ou recorrer à agiotagens absurdas para concluir o filme, e cumprir com datas e compromissos assumidos, é o produtor ou realizador. Aqueles agentes financeiros e empresários que desconhecem qualquer noção de cidadania, e que continuam abraçando a Lei de Gerson, estão dormindo tranqüilos. Kurosawa já dizia isso no título de uma de suas obras primas.

No mais, estou com a Norma, com ou sem apartamento, e não abro.

CARLOS REICHENBACH


Carlos Reichenbach, 54, é cineasta, roteirista, produtor, diretor de fotografia e crítico esporádico, além de rebelde e utopista assumido nas horas vagas. Suas principais vítimas e afetos são revelados nesta coluna semanal. Atrás das câmeras desde 1966, Reichenbach está lançando seu 12º filme, Dois Córregos, em vídeo e DVD, capta recursos para rodar o longa AURÉLIA SCHWARZENÊGA no início de 2.001, e conclui o roteiro de ORDET - NEM ANJO, NEM ANIMAL, uma produção de custo médio e artesanal que pretende filmar ainda este ano.

Comentários, desgostos, bombas e coquetéis podem ser enviados para:
reichenbach@zaz.com.br



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