BEING JOHN MALKOVITCH

O titulo "Being John Malkovich" nos faz pensar que este é um filme sobre o ator americano John Malkovich. Mas é ai que o espectador se engana. O filme é sobre o que somos e como encontramos nossa essência para que possamos ser felizes.

O filme conta a história de um jovem casal americano, Lotte (Cameron Diaz) e Craig Schwartz (John Cussack). Eles não têm filhos, mas animais de estimação que variam de um chipanze que vai ao psiquiatra, a peixinhos no aquário. Ela adora animais, e quando não está tratando dos bichos em casa está tratando dos bichos numa loja de produtos para animais. Ele não tem emprego e passa os dias em casa. Num certo dia Craig resolve responder a um anúncio de jornal para trabalhar numa firma arquivando documentos.

O escritório da firma é no andar 7 1/2, mas no elevador só existem os andares 7 e 8. Um dia, enquanto trabalha, um de seus documentos cai atrás de um arquivo e ele descobre um portal minúsculo que leva as pesoas a, nada mais nada menos, John Malkovich.

Durante o tempo em que as pessoas estão no túnel elas estão sendo John Malkovich e vivendo as experiências do próprio. Craig e sua colega de trabalho Maxine decidem fazer do túnel um negócio rentável, levando as pessoas a serem John Malkovich. O negócio dá certo porque há tantas pessoas comuns, com vidas comuns, que eles esperam horas numa fila e pagam U$200 para experimentarem ser alguém famoso por quinze minutos.

Num certo dia Craig resolve ser John Malkovich por um tempo indeterminado. Mas, na verdade, John Malkovich passa a ser Craig no corpo de John Malkovich, como um manipulador de bonecos, até o momento em que ele começa a ser manipulado por eles.

Se ninguém dava crédito aos projetos de Craig com os bonecos, por este ser um cara qualquer, no momento em que ele é Malkovich as portas se abrem e ele se torna um pupeteiro famoso. Num mundo onde poucos ascendem ao estado de graça de serem considerados celebridades, nos parece óbvio que as nossas vidas seriam mais completas se fôssemos alguém famoso. Nós teríamos mais dinheiro no banco, credibilidade quando tentássemos ser pupeteiros, enfim, uma vida sem problemas.

Mas quando deixamos de ser aquela pessoa maravilhosa, e voltamos a ser um pobre mortal, tudo se torna duplamente difícil porque nos vimos como tudo era mais fácil quando tínhamos o reconhecimento holywoodiano. E uma vez vista esta realidade, ela não pode ser negada. Assim, ficamos tristes e choramos como os bonecos de Craig. Andy Warhol disse que todos seríamos famosos por quinze minutos, mas o que ele não nos disse é o que aconteceria ao final dos quinze minutos.

Being John Malkovich, EUA (1999). De Spike Jonze. Com John Cussack, Cameron Diaz, Catherina Keener, John Malkovitch.


Bárbara Kruchin é artista plástica e aficcionada por cinema. Ela é brasileira, mas mora em Nova York desde 1991, onde cursou a School of Visual Arts.