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INSTINTO

RAPIDINHO

Pega-se uma generosa porção de "Na montanha dos gorilas" (diet, isto é, sem Sigourney Weaver), mistura-se com uma dose farta de "Estranho no ninho" e acrescenta-se uma pitada de "O silêncio dos inocentes" (era pra ser um tempero discreto, mas a presença de Anthony Hopkins deixou o molho muito forte). Leva-se ao forno e, depois de duas horas, temos um bolo chamado "Instinto". Indigesto, é claro. Não dá pra sentir o clima bucólico das montanhas, nem o clima opressivo do ninho e muito menos o clima de horror dos inocentes. Só dá pra sentir aquela massa abatumada se revirando no estômago e lembrando que o dinheiro do ingresso teria sido melhor gasto com um prato de espaguete e um cálice de vinho. Saúde!, Hopkins. Paciência, amigo. Nem sempre dá certo. Passa o queijo ralado, por favor?
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AGORA COM MAIS CALMA

Quase tudo está errado. Começando pela escalação dos atores. Que Hopkins é bom ator dramático, todo mundo sabe. Que ele criou um tipo memorável, o canibal de "O silêncio dos inocentes", todo mundo lembra. Mas o diretor Turteltaub (do sonolento "Enquanto você dormia") preferiu apostar na pouca memória dos espectadores e na capacidade de superação de Hopkins. E se deu mal.

Hopkins nos oferece uma interpretação burocrática, fria, distante. O que talvez explique sua recente declaração de desinteresse pelo cinema. Mas Cuba Gooding Jr. está mais errado ainda. Ele é um bom ator cômico, jogado numa história que pretende ser densa e discutir os limites da razão humana. Tenta defender seu personagem, mas, às vezes, é patético, como na cena em que faz uma "mea-culpa" pelo seu arrivismo profissional. Igualmente patética é a cena em que os psicóticos presos rasgam suas cartas (usadas pelos guardas para fazer um sorteio), tentando mostrar que adquiriram uma nova consciência contra a opressão da penitenciária. Ai, ai, ai... Que Milos Forman os perdoe.

A pretensa "mensagem" de "Instinto" é que os gorilas são legais e pacíficos, enquanto os homens são idiotas e violentos. Concordo integralmente com a segunda parte. Como não estou disposto a ir para uma montanha na África, nem a entrar na jaula do zoológico, não contestarei a primeira. Então, a princípio, também vou concordar. Mas não dá pra engolir a principal teoria do filme: os homens são idiotas e violentos porque, em vez de se guiarem apenas pelo instinto (como os gorilas), criaram a civilização. Ai, ai, ai... Que Freud os perdoe.

O filme é bem produzido, tem uma trilha sonora esperta, fotografia legal, montagem correta, etc., de modo que provavelmente vai enganar bastante gente e fazer bilheterias razoáveis (a minha sessão estava lotada). "Instinto" é daqueles produtos altamente supérfluos, servidos em embalagem multicolorida e colocados goela abaixo dos consumidores por uma boa estratégia de marketing. Além disso, ainda tenta passar uma bela "mensagem" para o mundo. Ai, ai, ai... Que São Kubrick os perdoe. (Ah... ia esquecendo: nem os gorilas - na verdade, atores fantasiados - se salvam. Parecem aqueles bobões dos seriados de Tarzan na TV, prontos para comer uma banana quando o chefão mandar.)


Instinto (Instinct, EUA, 1999). De Jon Turteltaub.

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Carlos Gerbase é jornalista e trabalha na área audiovisual, como roteirista e diretor. Já escreveu duas novelas para o ZAZ (A gente ainda nem começou e "Fausto"). Atualmente finaliza seu terceiro longa-metragem, Tolerância, com Maitê Proença e Roberto Bomtempo.

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