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Fernando Meirelles rebate críticas de MV Bill contra Cidade de Deus

Sexta, 24 de janeiro de 2003, 13h29

Depois de receber duras críticas do rapper MV Bill contra o filme Cidade de Deus, o diretor Fernando Meirelles enviou uma mensagem para a imprensa na noite de ontem. Em sua coluna no site Viva Favela da última quarta-feira, o rapper, que é morador de Cidade de Deus, acusou o filme de denegrir a imagem de quem vive na favela (leia mais).

Confira, abaixo, a íntegra da mensagem de Fernando Meirelles.

"Li o texto do Bill com certa surpresa, mais pelo tom do que pelo conteúdo. Estou certo que há algum mal-entendido no caminho.

Bill foi apoiado pela VideoFilmes para realizar seus clipes, que não se diferem muito das intenções do filme, a Katia Lund já trabalhou com ele e está trabalhando com sua irmã e como o Bill participou conosco de um episódio da série Cidade dos Homens sem nunca ter feitos estas observações a respeito do longa-metragem Cidade de Deus, sempre acreditei que não houvesse qualquer problema. Por isso a surpresa.

Discordo da sua visão de que o filme estigmatiza a comunidade. A população do Rio sabe que CDD é um lugar violento não por causa da história que aconteceu nos anos 70 mostrada no longa, mas sim pelas 68 mortes violentas ocorridas no ano passado e noticiadas pela imprensa. Portanto não é um filme que deve ser combatido, mas sim esta violência cotidiana e o Bill tem uma capacidade de liderança que pode e deve ser usada para reverter este quadro. Ele está se mobilizando agora e só isto já é positivo.

O Bill tem razão ao dizer que o filme não ajudou a comunidade. Fora as pessoas envolvidas na produção o filme de fato não mudou a vida do lugar, esta seria uma tarefa para a qual não estaríamos preparados. Por outro lado, se não transformou a comunidade, ao menos está tentando transformar a vida dos garotos que participaram do projeto. Até hoje continuamos trabalhando juntos no grupo Nós do Cinema e muitos deles estão encontrando oportunidades a partir desta experiência. Mantemos também no Rio um escritório que aos poucos vai ajudando alguns garotos a encontrarem seu caminho. Não poderemos nunca alterar a vida de milhares de pessoas, mas ao menos de uma ou duas dezenas será possível, se eles quiserem. Estes poderão virar exemplo para outros.

Respeito o artista e líder comunitário que é o Bill e compreendo sua motivação quando diz estar cansado e querendo explodir. Apenas sinto que o filme não é o alvo adequado. Nossa história foi contada por um ex-morador, o Paulo Lins, a produção fez questão de envolver centenas de pessoas das comunidades na produção, revelamos talentos extraordinários que participaram ativamente na criação do filme, como Leandro Da Hora, morador de Cidade de Deus, sendo que a maior parte deles eram negros e mulatos, todos nos papéis principais, coisa rara em nossa cinematografia.

Neste sentido o filme é também uma expressão da comunidade. Acredito também que o projeto possa trazer alguns benefícios a longo prazo que devem ser pesados: Nosso presidente me disse que o filme havia mudado sua maneira de ver a questão da segurança pública. CDD não muda nada diretamente, mas sinto que ajudou a levantar a questão da exclusão social no país mais uma vez. Informou a sociedade mostrando um ponto de vista que ainda faltava. Junto com Cidade dos Homens, jogou alguma luz sobre o problema da favela. Se hoje o Bill consegue mobilizar o prefeito do Rio ou o Hermano Viana do Ministério da Cultura, isso se deve um pouco ao filme também. Apóio integralmente a mobilização que ele está fazendo, mesmo estando a produção do longa no incômodo papel de vidraça. As motivações do Bill são legítimas, ele é de fato uma liderança em sua comunidade e deve usar isso em prol da própria comuniade. Do nosso lado estaremos sempre abertos para qualquer conversa ou ação que possa trazer algum beneficio a esta ou qualquer outra comunidade.

Basta-nos dizer como podemos ajudar.

Fernando Meirelles

Los Angeles 23/1/2003"

Redação Terra

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