Ranking
Festivais
Canal DVD
Fox Film
Chats
Newsletter
E-mail
Busca
 

Oscar de Halle Berry relembra história de Dorothy Dandridge

Terça, 26 de março de 2002, 12h38

A discussão sobre a questão racial, reaberta nos Estados Unidos com a cerimônia do Oscar, no domingo, trouxe de volta à tona a figura de Dorothy Dandridge, a primeira atriz negra a fazer sucesso em Hollywood, nos anos 50. A estrela foi citada no emocionado discurso de agradecimento de Halle Berry, que segue os passos da atriz ao ganhar reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A história de Dandridge, no entanto, não teve um final feliz.

Berry começou a se identificar com Dandridge na metade dos anos 90, inspirada por sua dificuldade de conseguir papéis em filmes de grandes estúdios. Conhecida na época por filmes de sucesso moderado, como Febre da Selva, de Spike Lee, Berry diz ter ouvido as mesmas "desculpas" de executivos da indústria. "Ou você não é negra o suficiente para o papel, ou é negra demais", disse a estrela de A Última Ceia. O maior desafio da carreira de Berry foi justamente estrelar e produzir o filme Introducing Dorothy Dandridge, para o canal por assinatura HBO, em 1999. O projeto enfrentou inúmeras dificuldades atribuídas ao racismo de Hollywood.

A estrela dos anos 50 chegou a ganhar o apelido de "a Marilyn Monroe negra" e tornou-se a primeira negra a concorrer ao Oscar de melhor atriz, por seu trabalho em Carmen Jones, mas acabou perdendo o prêmio para Grace Kelly.

Nascida em Ohio em 1922, Dandridge mostrou talento desde criança, inspirada pela carreira frustrada de atriz da mãe, Ruby. Ao lado da irmã, Geneva, ela formou a dupla The Wonder Children e fez uma turnê cantando por igrejas no interior dos Estados Unidos. Em 1938, depois de fazer uma ponta em um filme chamado The Big Broadcast, ela mudou-se para Nova York e apareceu no Cotton Club, no Harlem. Depois de alguns anos de uma bem-sucedida carreira como cantora de cabaré, Dandridge casou-se com o músico Harold Nicholas, em 1942. O primeiro sinal das trajédias que iriam marcar a vida da estrela foi o nascimento da filha, Lynn, que sofria de problemas mentais.

Separada de Nicholas em 1949, ela voltou a ganhar a vida como cantora, sofrendo algumas das piores humilhações de sua carreira. Enquanto era bem-recebida nos palcos de cidades como Las Vegas e Miami, ela era proibida de freqüentar os mesmos banheiros dos artistas brancos e tinha de usar a entrada de serviço. Em um episódio histórico, a piscina de um dos hotéis foi esvaziada porque ela botou o pé dentro da água. Ainda assim, Dandridge apresentou-se nos principais clubes de Paris, Nova York e Londres.

Papel de escrava

No cinema, ela fez trabalhos que foram pouco percebidos, até conseguir o papel principal de Carmen Jones, uma versão da famosa ópera feita apenas com atores negros. No início das filmagens, ela começou também um relacionamento com o diretor Otto Preminger, que acabou virando uma nova fonte de sofrimento para a atriz, já que o cineasta nunca deixou a esposa. O filme foi o ponto alto da carreira de Dandridge, mas o sucesso durou pouco.

Aconselhada por Preminger, ela recusou um papel no filme O Rei e Eu, por achar que não deveria fazer o papel "de uma escrava". A decisão caiu mal em Hollywood (ela havia aceitado o trabalho inicialmente) e deu início ao declínio da carreira dela. Ela só conseguiu fazer outro filme dois anos depois, mas não teve o mesmo sucesso. Em 1959, ela estrelou, contra a própria vontade, Porgy and Bess, ao lado de Sidney Poitier, sob a direção de Preminger – com quem estava estremecida. O filme não foi bem-recebido pelo público, mas rendeu a Dandridge seu último suspiro de sucesso: um Globo de Ouro.

Logo depois, a atriz casou-se com um dono de restaurante chamado Jack Denison, que passou a explorar suas finanças e abusar Dandridge fisicamente. Em 1963, separada novamente, ela decretou falência e foi obrigada a colocar a filha em um hospital público, porque não tinha mais dinheiro para pagar uma babá. A perda da casa marcou o início dos problemas dela com a bebida. Dandridge morreu em 1965 de uma overdose de anti-depressivos, em uma fase em que já não conseguia mais arrumar trabalhos em Hollywood.

Alguns anos antes, o empresário da estrela, Earl Mills, disse que ela deveria aceitar as humilhações e dificuldades da carreira porque era a primeira artista negra a abrir as portas da indústria. "Você está preparando o caminho para outras que virão", disse ele. Nenhum dos dois, provavelmente, achou que a escalada ia ser tão lenta.

Guto Barra / Planet Pop

mais notícias

 
 » Conheça o Terra em outros países Resolução mínima de 800x600 © Copyright 2002,Terra Networks, S.A Proibida sua reprodução total ou parcial
  Anuncie  | Assine | Central do Assinante | Clube Terra | Fale com o Terra | Aviso Legal | Política de Privacidade