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25ª Mostra: Drama de Nanni Moretti é destaque da abertura

Sexta, 19 de outubro de 2001, 17h39

A 25ª Mostra BR de Cinema, que começa nesta sexta-feira em São Paulo, escalou para o primeiro dia da maratona cinematográfica alguns dos melhores filmes exibidos nos últimos festivais europeus, com destaque para o grande vencedor de Cannes, O Quarto do Filho, drama do italiano Nanni Moretti.

Um bom motivo para não deixar essa atração para depois é que sua estréia no Brasil, prevista para novembro, foi adiada para 2002, em data ainda não definida.

Portanto, quem não tem paciência para esperar, deve se esforçar para obter seu ingresso e mergulhar nesta história, em que o diretor italiano sai de seu habitual registro autobiográfico para retratar o turbilhão que atinge uma família perfeitamente normal e feliz depois da morte trágica do filho adolescente (Giuseppe Sanfelice).

O próprio Moretti interpreta o psicanalista Giovanni Sermonti, o pai do jovem, que, apesar de toda sua experiência profissional em ajudar outras pessoas, fica paralisado na própria dor. Desce ao inferno junto com a mulher (a esplêndida Laura Morante) e a filha (Jasmine Trinca) para reconstituir os corações partidos e reencontrar o sabor da vida.

Apesar de não ser um tema novo, nem inteiramente desprovido de clichês, é um filme extremamente sedutor, em que a atuação inclusive dos coadjuvantes deve ser destacada - caso de Silvio Orlando, habitual frequentador dos elencos de Moretti, e especialmente de Stefano Accorsi (protagonista de Capitães de Abril, de Maria de Medeiros), os dois na pele de pacientes do protagonista.

Outros destaques da estréia do festival
Memórias em Super-8 é um documentário em que o iugoslavo Emir Kusturica solta a câmera numa turnê européia da banda The No Smoking Orchestra, da qual é guitarrista desde 1986 (a banda existe desde 1980).

Mas não se espere aqui nenhum vestígio daquela autocelebração indulgente que costuma dar a tônica desse tipo de filme ao retratar um conjunto musical.

Além de colocar em cena os elétricos músicos, cujos shows abriram os trabalhos da Mostra este ano, as imagens não recuam nos bastidores, mostrando sem encenação uma luta corporal entre o próprio Kusturica e seu filho, o baterista Stribor.

Uma briga que serve como imagem eloquente, aliás, da surpreendente natureza dos povos dos Bálcãs, que não desistem de festa mesmo durante a guerra e não dispensam a música, seja em enterros, seja em casamentos.

Mesmo a The No Smoking Orchestra somente sobreviveu durante a Guerra da Bósnia (1992-1995) justamente porque tocava em enterros e casamentos, muitas vezes por não mais do que a comida servida nessas ocasiões.

Por isso mesmo, os músicos mostram-se pessoas destemidas e despojadas - já viram de tudo e procuram com sua música celebrar a alegria de viver.

Filmado com câmera digital, o documentário registra divertidas inserções de cenas da infância de alguns dos membros da orquestra, caso do próprio Stribor Kusturica, visto pequenininho brincando com o pai, e do violinista Dejan Sparavalo.

Duas comédias francesas revelam o grau de sutileza e sofisticação que este gênero pode atingir. Uma delas é Quem Sabe, do veterano da Nouvelle Vague Jacques Rivette - cuja não-premiação foi considerada pelos críticos uma das mais flagrantes injustiças do Festival de Cannes deste ano.

Também co-roteirista, Rivette desenrola uma deliciosa espiral de esperanças e desenganos amorosos num pequeno grupo, formado por uma atriz (Jeanne Balibar), o diretor de sua peça e seu amante (Sergio Castellito) e seus respectivos ex-amores.

Numa vibrante homenagem à arte teatral, Rivette mistura habilmente os conflitos de uma peça de Luigi Pirandello (Come Tu Mi Vuoi), encenada pelo diretor e pela atriz, e o correspondente arco de emoções desatado pela volta de figuras amorosas do passado. Um filme realmente revigorante, especialmente na sequência final.

Outro biscoito fino é O Gosto dos Outros, primeiro longa-metragem de Agnès Jaoui e vencedor do César (principal prêmio da França) de melhor roteiro. Agnès, que também atua em seu filme é, aliás, uma roteirista com credenciais sólidas: assina, por exemplo, o script de Smoking/No Smoking (1993), de Alain Resnais.

Aqui, ela arma um encontro improvável entre Clara (Anna Alvaro), uma atriz de peças sisudas, e o empresário Castella (Jean-Pierre Bacri). Por dificuldades profissionais, já que chegou aos 40 anos e não aceita atuar em comédias, Clara começa a lecionar inglês para Castella, um novo-rico suburbano e sem o menor gosto artístico.

Juntando a esta dupla central os amigos intelectuais de Clara, a mulher neurótica do empresário (Christiane Millet), uma garçonete desinibida (a própria diretora do filme), além do motorista (Alain Chabat) e do segurança de Castella (Gérard Lanvin), a diretora cria um verdadeiro caleidoscópio, mostrando que, na vida, tudo é mesmo uma questão de ponto de vista.

Ou seja, o brega de hoje pode ser o inovador de amanhã, e o reacionário de ontem pode ser o progressista de daqui a pouco.

Neusa Barbosa
Reuters

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