Ranking
Colunistas
Festivais
Chats
Newsletter
E-mail
Busca
 

Há 20 anos o Brasil perdia o revolucionário Glauber Rocha

Quarta, 22 de agosto de 2001, 18h55

Há 20 anos morria um dos maiores gênios da cinematografia nacional. Com apenas 43 anos, Glauber Rocha deixava órfã uma nação que criara com imagens transgressivas e saborosas, que ajudaram a traçar a personalidade antiestrela do diretor.

Imortalizado pela frase “Uma idéia na Cabeça e Uma Câmera na Mão”, o diretor foi o criador de uma nova linguagem cinematográfica que implicava não apenas numa estética, mas num método de filmagem e numa forma de vida. Sua genialidade o tornou líder do Cinema Novo, e conquistando o mundo cinematográfico de sua geração, chegou a ser votado como o melhor diretor no Festival de Cannes, em 1969.

Logo no início de sua carreira, ao falar de um de seus primeiros filmes, ele já entregava a profissão de fé que iria trilhar toda sua vida: "Não tenho nenhuma mensagem para o mundo com minha obra. Para mim, a câmera é um brinquedo".

Nascido em Vitória da Conquista, em 14 de março de 1938, foi jornalista e crítico. Dirigiu curtas O Pátio (1956/59), A Cruz na Praça (1958) e assumiu a direção em andamento de Barravento (1961-65), consagrando-se como cineasta com Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) e Terra em Transe (1967). Apesar de sua frutífera filmografia, é difícil classificar o trabalho deste autor complexo e vanguardista, cujas obras encontram-se no limite entre a genialidade e a loucura.

É no final da década de 60 que Glauber parte do Brasil, exilando-se na Europa, depois em Cuba e nos EUA. Só na década seguinte retorna ao país, realizando obras polêmicas para a televisão e um longa - cujas críticas foram muito negativas - A Idade da Terra, de 1980.

Um de seus trabalhos mais polêmicos foi o curta-metragem semi-documental Di, de 1977. Ao tomar conhecimento da morte do amigo e pintor Emiliano Di Cavalcanti, o cineasta e sua equipe correram para o Museu de Arte Moderna do Rio, onde o corpo do artista estava sendo velado. Lá dirige um filme onde manifesta sua perplexidade, sua indignação e sua impulsividade poética. No filme, Glauber intercala partes do seu discurso apaixonado com trechos de uma crítica de Frederico de Morais e do poema Balada de Di Cavalcanti, de Vinícius de Moraes.

O filme foi interditado durante anos por uma medida judicial da família do pintor, que proibiu a exibição pública do documentário.


"Quando Di morreu, eu apenas improvisei em cima de fatos. Como eu estava duro, pedi a vários colegas cineastas pedaços de filmes virgens, chegando a
juntar 800 metros de colorido. Peguei também uma câmara emprestada do Nelson Pereira dos Santos.[...] Fui ao velório, no Museu de Arte Moderna e ao
enterro, no São João Batista. Dirigi o fotógrafo Mário Carneiro na tomada das cenas. Aí já estava decidido a fazer um filme sobre a morte de Di. Uma
homenagem de amigo para amigo. As poucas pessoas que estavam lá ficaram chocadíssimas, claro. Diziam que eu estava tumultuando o enterro, estava profanado um ato católico. Não é nada disso. Meu filme é um manifesto contra a morte. Da morte nasce a vida. Di era um homem alegre, um homem que, com toda a certeza, também gostava de enterros. E eu quis, além de prestar-lhe uma homenagem, contestar os princípios fundamentais da lógica."
(Glauber Rocha)

Luciana Rocha/ Redação Terra

mais notícias
 
Copyright© 1996 - 2001 Terra Networks, S.A.
Todos os direitos reservados. All rights reserved