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"Sweet Movie" mostra os anos que mudaram tudo



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Há dois anos ele esteve em São Paulo para ser homenageado com uma retrospectiva de sua obra na Mostra Internacional de Cinema. Dusan Makavejev deu uma longa entrevista. Olhando aquele senhor calmo, educado, vestido com discrição, senão com elegância, ninguém poderia imaginar que foi um dos mais transgressores autores do começo dos anos 70. Não representa pouca coisa. Aquela época foi marcada pelo inconformismo e pela agitação política e cultural, ainda como conseqüência do célebre Maio de 68. Aquele Makavejev transgressor está de volta. Com 27 anos de atraso, estréia Sweet Movie, que ele dirigiu em 1973.

É uma co-produção entre a Iugoslávia (que ainda existia) a França e o Canadá. A origem e o capital podem ser importantes mas não são determinantes. É um filme de Makavejev. Dois anos antes, ele havia feito W.R. - Mistérios do Organismo, que teve problemas com a censura de diversos países. No Brasil, foi proibido durante anos pelo regime militar. As iniciais W.R. referem-se a William Reich, o psicanalista dissidente de Freud, que teorizou sobre a sexualidade, procurando ver no sexo um elemento de libertação. Nada mais de acordo com o espírito dos anos 60, que, após a pílula, pregava o amor livre. Reich virou guru. No Brasil, a censura implicou com uma cena de ereção. Usou-a como desculpa para proibir o filme quando, na verdade, o que incomodava era outra coisa.

Não deixa de ser curioso que Sweet Movie, tantos anos depois, estréie na cidade no mesmo dia em que está sendo lançado o novo filme de Ettore Scola, O Jantar. Scola não tem a mesma atração de Makavejev pela escatologia e pelo sexo, é até pudico, mas é um cineasta que celebra arte e política em seu cinema. Makavejev, também. Seu cinema se constrói em torno da arte, do sexo e da política. Seus filmes tratam da politização do sexo e da erotização da política. E ele não tem medo da mais grosseira escatologia, desde que ela seja eficiente para o que quer dizer.

Na falta de uma definição melhor, os críticos gostam de dizer que o trabalho de Makavejev, em sua grande fase, é meio surreal. Os filmes misturam documentário e ficção, pornografia, didatismo de esquerda, fatos e símbolos. Sweet Movie conta a história, ou melhor, mostra, porque a história de Makavejev nunca é linear, no sentido hollywoodiano, de um industrial do açúcar, o rei do cinto de castidade. Esse homem é um exibicionista que ostenta sua potência por meio de um pênis revestido de ouro. Contrata Miss Mundo, que toma um banho de chocolate. E há um barco cuja proa ostenta uma estátua com a representação da cabeça de Karl Marx. É uma embarcação que vaga meio sem rumo, pois Makavejev é uma displaced person, que não acreditava muito no comunismo nem no capitalismo, achando que nenhum desses sistemas possibilita a libertação do homem. O capitalismo aliena, estimula o conformismo e o consumismo, o comunismo, por ser totalitário, escraviza(va) as mentes.

É um filme ousado, gráfica e conceitualmente. É emblemático de uma época marcada pela contracultura, pela contestação. O que Makavejev fazia na Iugoslávia tinha a ver com Jean-Luc Godard, que radicalizava na França, com a estética política de Elio Petri e Francesco Rosi na Itália, com Jane Fonda que desembarcava em Paris, vinda de Hanói, portando um chapéu cônico de vietcongue (em plena Guerra do Vietnã!), com Gláuber Rocha, que se auto-exilara do Brasil para ser cidadão do Terceiro Mundo. Era um mundo em transe, um cinema que, no caso de Makavejev, possuía uma dimensão delirante.

Afrodisíaco - A propósito, vale transcrever o texto do próprio diretor que a Mais Filmes, distribuidora de Sweet Movie, enviou à imprensa. "Esse é um filme doce, uma comédia ligeiramente temperada de antipsiquiatria, um vibrante ensaio sobre a sexualidade humana, cujo slogan poderia ser 'Me prove, sou uma delícia'. Como dizia Raoul Vanegheim, quem fala de revolução, sem realizá-la no cotidiano, fala com um cadáver entre os dentes. E Makavejev acrescenta que Sweet Movie preenche funções terapêuticas e fundamentais - é um afrodisíaco ligeiro e relativamente persistente, que ao mesmo tempo reconstitui o organismo. Recomenda, fortemente, que seja visto por casais, pois é o filme da respiração profunda, das maçãs rosadas, dos olhos e dos sorrisos brilhantes. "Aumenta o apetite dos beijos, suscita a salivação, incrementa a taxa de percepção auditiva e táctil, renasce, enfim, em todo espectador, o animal pleno de alegria e prazer, chegando mesmo a regenerar alguns espectadores pela maravilhosa fonte de juventude da lenda."

Makavejev nasceu em Belgrado, em 1933. Estudou psicologia antes de optar pelo cinema, o que se percebe no seu trabalho, que começou com curtas experimentais, antes que ele estreasse no longa, em 1964, com um filme sugestivamente chamado O Homem não É um Pássaro. Embora produzido com capitais internacionais, Sweet Movie é falado em iugoslavo, a língua dominante no país, na época de Tito, antes que a Iugoslávia se esfacelasse nas disputas raciais e regionais que levaram à sangrenta Guerra da Bósnia.

O elenco é formado por Carole Laure, Pierre Clementi e Sami Frey, por membros da Therapie-Komune de Viena e por uma atriz americana, negra e linda, que 14 anos antes havia feito, no Brasil, no papel de Eurídice, um filme premiado e polêmico - Orfeu do Carnaval, também chamado de "Orfeu Negro", de Marcel Camus, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, em 1959.
(Luiz Carlos Merten/ Agência Estado)



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SWEET MOVIE

Título Original: Sweet Movie
País de Origem:
Canadá/França/Alemanha
Ano: 1974
Duração: 120 minutos
Diretor:
Dusan Makavejev
Elenco: Carole Laure, Pierre Clémenti, Anna Prucnal, Sami Frey, Jane Mallett, Roy Callender, John Vernon, Hansi Roll










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